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Putin é louco?

Primeira parte de matéria especial sobre o que está por trás do conflito Rússia x Ucrânia que abalou o mundo


Por Felipe Rebello


Vladimir Putin governa a Rússia desde 1999/Foto: Reprodução Internet - Poder 360
Vladimir Putin governa a Rússia desde 1999/Foto: Reprodução Internet - Poder 360

Há alguns dias acordamos durante a madruga ou logo pela manhã e nossos celulares fervilhavam com a notícia de que a Rússia havia invadido a Ucrânia. Muitos ainda tentavam entender o que estava acontecendo. O dia se passou e nos noticiários da TV rapidamente começou a se desenhar a figura de um vilão da Disney, um louco desvairado que não tem outro objetivo senão espalhar o mal pelo mundo.


Semelhante às caricaturas pintadas acerca de figuras como Kim Jong-un, Muamar Gadafi e, por que não, Donald Trump. Por outro lado, nas redes sociais, grupos e partidos de extrema-esquerda também pintaram uma imagem aterradora da NATO/OTAN, como se a aliança estivesse prestes a invadir a Rússia e só com a conquista heroica da Ucrânia a pátria eslava poderia se salvar.


Mas vamos lá, agora que a poeira está abaixando, coloquemos a bola no chão! Além das paixões, generalizações e gritarias, o que podemos dizer acerca das movimentações de Putin e da NATO/OTAN neste tabuleiro geopolítico? Com o perdão da redundância, vamos começar pelo começo.


Qual a conexão entre a Rússia e a Ucrânia?

Toda! Russos, ucranianos e bielorrussos são praticamente o mesmo povo. Ambos partilham a mesma história, sendo originários de um povo eslavo chamado rus’ que formaram principados primitivos na Europa medieval como Rus’ de Kiev (atual Ucrânia) e posteriormente, Rus’ de Moscou (atual Rússia), ou seja, teoricamente a Rússia nasceu da Ucrânia!


Além disso ambos os países são cristãos ortodoxos, falam dialetos muito próximos e inteligíveis, usam alfabeto o cirílico, além de possuírem diversos costumes comuns, como danças, pratos típicos, folclore e afins.


As diferenças são mínimas, por isso em seu último discurso, Putin inclusive disse que na realidade a Ucrânia nem deveria existir enquanto país, uma vez que ela teria sido criada artificialmente fruto da fragilidade política da Rússia durante o fim da URSS.

Por outro lado, a Ucrânia enquanto Estado moderno tem criado uma forte identificação nacional anti-Rússia. Nem sempre a nacionalidade é fator decisivo para a criação de um Estado, muitas vezes a visão política é o suficiente, vide o caso da Áustria que é um país de nacionalidade e língua germânica, mas por questões históricas e políticas se firmou como um Estado em separado da Alemanha (e ninguém questiona sua existência).


Ademais não existe uma métrica que defina o quanto um povo deve ser igual a outro para ser considerado a mesma nação ou não. Por exemplo, dentro da própria Rússia existem populações túrquicas, que culturalmente são muito mais próximos dos turcos, cazaques e até mesmo mongóis, do que dos próprios russos (eslavos).


Ou ainda, para usar o exemplo da Alemanha, dentro deste país existem dezesseis dialetos, mas não há diferenças culturais e políticas fortes o suficiente para que esta ou aquela região busque independência.

Em suma, não dá para bater o martelo e dizer se os ucranianos são uma mera subdivisão regional dos russos ou um povo em separado. Ainda que fosse o mesmo povo, não seria motivo o suficiente para determinar que ambos devem estar integrados em um mesmo Estado-nacional.


A Rússia e os eslavos

O primeiro ponto que temos de ter em mente quando falamos da Guerra da Ucrânia, é que os russos se entendem como a Pátria Mãe de todos os povos eslavos orientais (aqui excluímos os países eslavos balcânicos – ex-Iugoslávia – e os eslavos ocidentais), por isso ela fará o que for preciso para defender os interesses das comunidades eslavo-russas ao redor do mundo.


O Kremlin já interviu militarmente em diversos países da Europa onde julgou que as populações eslavo-russas estavam tendo algum tipo de prejuízo político, como no caso da Transnístria (Romênia) e Nargono-Karabakh (Azerbaijão), além da Abecásia e Osétia do Sul (Geórgia). Todas estas regiões agora contam com presença militar russa.


O caso da Geórgia foi, inclusive, bastante parecido com o que se passa Ucrânia, uma vez que a Rússia invadiu todo o território a fim de defender os direitos de sua população. Por isso a expectativa era de que Moscou, como nas demais regiões, garantisse apenas a autonomia e segurança da população eslavo-russa do leste da Ucrânia, na Região de Donbass (Luhansk e Donetsk).


Contudo, todavia, entretanto, ao Putin dizer em discurso que considera que não apenas Donbass, mas que toda a Ucrânia faz parte da “Mãe Rússia”, este revela um tipo de pretensão sem precedentes.

Essa relação da “Mãe Rússia” com seus “filhos” eslavos também explica a extrema preocupação de países como a Polônia, uma vez que em seus territórios vivem populações da etnia rutena (ou russinos dos Cárpatos), que é um destes povos eslavos que fazem parte da nação russa.

 

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Felipe Rebello é professor de História e psicopedagogo.



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