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Réveillon, por Fábio Rodrigo


Todos contavam os minutos finais para o fim de mais um ano. A mesa posta nos fundos da casa mostrava que a data era especial. O alimento mais cobiçado na mesa era o frango assado, e, ao lado dele e da vasilha de salpicão, estava uma panela bem areada e brilhante que comportava o arroz. Tudo muito simples, mas o suficiente para alegrar a família. A matriarca já estava com seu traje do réveillon: um vestido de chita, adquirido em um bazar beneficente. E aproveitava para fazer sua última prece antes de virar o ano.


As dificuldades financeiras ocasionadas pela falta de emprego dos chefes da família não os desanimaram de proporcionar aquele evento em casa. O patriarca estava até feliz com os bicos feitos no mês de dezembro que lhe garantiram uma ceia decente. Os filhos estavam arrumadinhos: as roupas compradas na rua da feira eram motivo de orgulho para ele. O refrigerante que tinham era pra brindar à meia noite. Os pais brigavam com os filhos para não beberem tudo antes da hora. Preferiam não se lembrar do ano difícil que tiveram: perda de emprego, falta d’água, enchente no quintal, móveis perdidos, parentes mortos pela polícia... Nada disso era comentado, era hora de mentalizar algo positivo para o próximo ano.


Finalmente dera meia noite. Rajadas de fogos de artifício davam a largada para o ano novo. Ninguém sabia dizer de onde vinham. Supunham ser de um bairro abastado. Mas o certo é que alegravam a noite da família, que olhava com brilho nos olhos a queima de fogos no céu. Cada um dos integrantes, com um copo de geleia em mãos, aproveitou o embalo para brindar a chegada do ano novo. Estavam felizes. Era o momento mais aguardado do ano. Era o momento de acreditar que o ano vindouro será melhor.

Fábio Rodrigo Gomes da Costa é professor e mestre em Estudos Linguísticos.




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