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São Gonçalo tem futuro? Por Mário Lima Jr.

Igreja de Nossa Senhora das Graças, Porto Velho?Foto: Romário Regis
Igreja de Nossa Senhora das Graças, Porto Velho?Foto: Romário Regis

Um povo precisa conhecer o passado da região onde vive, o que ela representa no presente e aquilo que pretende ser no futuro. Caso contrário, povo e região Portugal incompletos e isolados, como estranhos um para o outro.


O Brasil, por exemplo, durante séculos foi colônia rica em recursos naturais, de natureza exuberante e farta de escravidão. Representa a mais complexa mistura racial e cultural do mundo. E quer o destino de ser um país diverso e ao mesmo tempo justo e pacífico, sem pobreza.


Olhando para São Gonçalo, num passado recente a cidade recebeu o apelido de “Manchester Fluminense”, em comparação à famosa cidade industrial britânica, visto que entre 1940 e 1950 o município constituía um dos mais importantes distritos industriais do Rio de Janeiro. Antes desse período, na primeira década do século 20, a cidade foi pioneira entre os demais municípios brasileiros em diversas técnicas agrícolas, como a fruticultura, e estava entre as cidades de maior desenvolvimento agrícola do país, segundo a historiadora Maria Nelma de Carvalho Braga. É verdade que a fama e o pioneirismo não resultaram em planejamento urbano e ganhos permanentes em qualidade de vida, mas havia um caminho, claro e positivo, que poderia ser trilhado.


Em escala que possa impactar a população de 1 milhão de habitantes, São Gonçalo hoje não tem nada além de violência e pobreza. Ela é origem do segundo maior deslocamento diário de pessoas do Brasil, perdendo apenas para São Paulo. Cento e vinte mil gonçalenses acordam, se arrumam e deixam a cidade todos os dias em direção a Niterói e ao Rio de Janeiro, número que corresponde a 96% da população ocupada, de acordo com o IBGE. O que não significa que sejamos uma cidade dormitório. Grande parte dos gonçalenses conquista o seu sustento no município, de maneira informal, através de bicos, nossa característica mais marcante, ao lado do desemprego entre os jovens e da baixa formação educacional.


Houve ascensão social no município, como em todo o Brasil, ao longo dos governos petistas e São Gonçalo passou a contar com serviços e produtos voltados para as classes B e C, mas é no despreparo e na desordem que o dia-a-dia municipal está baseado.


O aspecto mais preocupante não é o presente caótico, mas a ausência de futuro. Não há narrativa por dias melhores, nenhuma intenção pública ou sonho no imaginário popular sobre como São Gonçalo gostaria de ser conhecida pelo mundo. Nas ruas e no ar não circula o desejo de estimular as vocações do município. Porque, afinal, não conhecemos a nós mesmos bem o suficiente.


Por incrível que pareça, há possibilidades de transformação que nascem com o apoio do governo municipal. Dona de uma área de 248,4 km², São Gonçalo se tornou uma cidade mais ecológica com a criação de novas unidades de conservação. A exploração sustentável do meio ambiente e o desenvolvimento respeitando a natureza é uma obrigação para qualquer cidade neste milênio. No entanto, esse é um governo que abandona as boas ideias que ele mesmo cria. Em breve o assunto deixa de ser discutido e nem povo nem governo entendem para onde vão.

Mário Lima Jr. é escritor.

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