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Será que a “Vila” voltou ou nunca desapareceu? Por Oswaldo Mendes


Rock in Beer, no Camarão/Foto: O São Gonçalo
Rock in Beer, no Camarão/Foto: O São Gonçalo

Um ponto de encontro de jovens. Um ponto de resistência.


Underground – como cita o D. Sc Antônio Marcos Muniz, morador de São Gonçalo e frequentador da Vila, à época, o qual me chamou a atenção sobre este tema e a relação espaço x tempo.


Idos de 1970/1980. Vila – Um ponto de encontro de jovens em frente ao antigo Colégio São Gonçalo. O nome “Vila” advém do início da cidade. Casas que ficavam ao lado da Igreja Matriz, em frente a Primeira Igreja Batista de São Gonçalo, CEDAE ou INSS. Ali também havia o busto do Pastor Zarro – havia.


São Gonçalo, ao contrário do que se pensa ou se encontra escrito, sempre foi local de pessoas fortes e de resistências. A história da cidade não conta nada sobre pessoas como Claudino José da Silva – operário, ex-deputado federal do PCB que lutava contra o racismo, intolerância e a pobreza.


Havia outros pontos de encontros de jovens: A “Turma do Rodo” era imbatível, seja no copo ou mesmo na porrada – O ponto deles era no “Pastelão”. Tínhamos diversas escolas de samba: Boêmios da Madama, Marimbondo, no Paraíso, Porto da Pedra, Cruzamento do Amor, Camisolão, Bafo do Leão e outras.

Primeiro beijo gay. Viva a Madame Butterfly: “Um Homem de Peito”. Imaginem ser homossexual assumido nos idos de 70, com todo tipo de repressão. Os bailes do Tamoio, Big Beto e as discotecas e a Portela no Mauá. Voltar para casa a pé de madrugada era normal. A pureza que muitos hoje declaram e gritam não mais era cantada em versos e prosa, até mesmo em função de que as dezenas de motéis que existiam não eram para orações e atualmente, época do pecado, faliram.


Li uma vez sobre os componentes do Poder: cultura, dinheiro, política, estudo e religião. O detalhe é que um componente do Poder pode alavancar outro, como o dinheiro pode trazer cultura e estudo, assim como a religião pode levar ao dinheiro e cultura, e vice-versa. Para cidades pobres como a nossa onde o estudo é muito caro e difícil, vemos que aí se explica historicamente a cidade ser o “berço de artistas”, sejam teatro, cinema, esportes, músicos e outros, assim como a cidade ter mais igrejas do que padarias e farmácias.


São Gonçalo é uma cidade de serviço, cidade de jovens que criam ambientes adequados as suas necessidades e expectativas: Viva a “Vila”. Esses pontos são móveis e sempre foram base de repressão histórica.


Minissaias, rock, porradinhas(bebida), motos barulhentas e os famosos “pegas”, foram trocados funk/pagode, bebidas(vodka), carros e motos barulhentos.


O espaço e tempo mudaram, mas não a “Vila”.


Atualmente temos reuniões de jovens na Praça do ex-combatente, em frente ao Cemitério de São Gonçalo e também no Mutondo, dentre outros. Há diversos bailes de Comunidades.


Pessoas, que são contrárias, falam sobre o consumo de drogas. As drogas ilegais devem ser combatidas, mas não é por esse motivo que se tem que acabar com esses movimentos populares, até em função de que muita gente vive honestamente desses ambientes, que a cidade atrai milhares de jovens para aqui gastar e se divertir, principalmente agora, com a redução drástica de assaltos a transeuntes e vias públicas e outros agentes da violência em função de ação dos Agentes Públicos de Segurança.


Criação de Emprego e Renda, assim como no Centro de Tradições Nordestinas. Que se abram novos espaços. A Cultura é nosso forte e saída!


Poder Público regulem essas localidades. Não as matem. Não joguem esses jovens, que estão em bares a beira da rua, para outros de tipos de bailes, onde a fiscalização poderá ser muito mais dificultada: ”Deixem os garotos brincarem”


Repasso a seguir, texto integral de um sexagenário, oficial militar reformado, motociclista, Radioamador e morador de São Gonçalo, que expõe suas dúvidas, expectativas e propostas:


Mutondo, Rua Alfredo Backer, bares enchem de jovens e devido ao espaço muito restrito para multidões, amontoam-se ali nos finais de semana e pode-se configurar um dos maiores ambientes para os jovens gonçalenses. Muito próximo do 7° Batalhão, de bons barzinhos, lanchonetes e casas de show. Parece tudo normal mas já dá sinais de descontrole e fatos desagradáveis como abusos da ordem pública”…... “Dito isto, já observa-se a necessidade de Secretarias responsáveis pelo bem-estar do cidadão iniciar um trabalho de apoio ali. A comunidade das imediações já fazem dali um espaço de lazer para seus filhos cuja segurança lhes parece existir. Esperam que a prefeitura através da Secretaria de cultura e lazer já se mobilizem. Comentei, porque esses locais na cidade, tornam-se as opções de lazer de jovens e não deixa de ser um laboratório para as secretarias ligadas ao assunto. Se está ocorrendo algo que atente à segurança pública, precisa ser estudado e não combatido com atitudes hostis gratuitas como se todos fossem marginais. Afinal, são moradores da cidade em busca de lugares seguros e protegidos pelo poder público.”


Uma reclamação, no olhar obtuso, pode ser considerado uma ofensa, mas no olhar positivista, uma consultoria gratuita.


Deixem a “Vila” viva!

Oswaldo Mendes é gonçalense sambista e engenheiro.



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