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São Gonçalo como objeto de colecionismo: Fichas de ônibus, por Rui A. Fernandes


Os usuários dos transportes coletivos estão acostumados com duas formas de pagamento para utilizá-los. Ou paga-se o valor em espécie, ou o débito em seu Riocard. Muitos devem se lembrar dos “vales-transportes” em papel, que antecederam os cartões magnéticos. Uma coisa que, aqueles que tem menos de 40 anos, não vivenciaram foi o uso de fichas de ônibus.


Entre os anos 1940 e 1980, o passageiro, ao ingressar no coletivo, informava ao cobrador o percurso que faria, pagando a passagem correspondente. Esse sistema de cobrança da passagem por trecho já era usado nos trens e bondes, deixando sua marca em lugares como o Ponto Cem Réis, em Niterói. Para ser transportado do centro da cidade até igreja de São Lourenço, no início da Alameda São Boaventura, o usuário pagava cem réis. E o nome ficou perpetuando, na memória local, o sistema de cobrança e a moeda circulante em outros tempos.


O passageiro dos ônibus recebia uma ficha com a cor correspondente ao trecho solicitado. Quanto mais longe, mais caro era o valor a ser pago. Ao descer, deveria depositá-la em uma caixa coletora próxima ao motorista. A parte superior desta era transparente, feita de vidro ou de plástico, e servia para que o motorista visse a cor da ficha depositada. Conferida a cor, ele acionava uma alavanca que jogava a ficha em uma urna que ficava trancada na parte inferior da caixa.


Inicialmente, as fichas eram produzidas em metal, sendo encontradas fichas em bronze, cobre, níquel ou alumínio. Gradativamente foram substituídas por materiais mais baratos como baquelite, galalite, plástico, plástico flexível, etc. Possuíam formas variadas. As mais comuns eram redondas, mas haviam quadradas, retangulares, triangulares, hexagonais e algumas retangulares bordeadas em semicírculos, que lembram o biscoito de maisena. Geralmente, em uma das faces era gravado o nome da empresa e na outra uma observação como “deposite na caixa” ou algo do gênero.

Sua utilização, nos transportes coletivos brasileiros, não foi uma invenção nacional e era uma tentativa de controle dos valores que deveriam ser transmitidos pelos cobradores aos empresários. Ao final do dia, removia-se o conteúdo das caixas coletoras para a conferência do número de fichas de cada cor e os valores correspondentes. Essa forma de cobrança findou com a padronização dos preços das passagens e as fichas caíram em desuso, sendo substituídas pelo vale-transporte, na década de 1990.


O colecionismo das fichas de ônibus está no conjunto de interesses da busologia, termo utilizado para designar o hobby e o estudo do ônibus. Os busólogos são afixionados pela história dos ônibus, das empresas operadoras, das políticas públicas voltadas para o setor, dos fabricantes destes veículos, do sistema de transporte etc. Estima-se que, no Brasil, sejam mais de 13 mil adeptos e 45 mil no mundo.


O blog www.fichadeonibus.blogspot.com registra exemplares de fichas de ônibus de mais de três dezenas de empresas de ônibus que atuaram/atuam em São Gonçalo. Muitas dessas linhas surgiram para atender os bairros/loteamentos que surgiram a partir da década de 1940. Os anos 1970/1980 algumas empresas passaram a comprar linhas e outras empresas formando as grandes empresas de transporte coletivo que hoje atuam no município. Busólogos ou não, esses objetos ligados ao ônibus são chaves importantes para compreendermos o papel dos transportes públicos na vida local.


Viação ABC Ltda. Acervo pessoal


Figura_02 – Coletivos Rio D’Ouro. Acervo: www.fichadeonibus.blogspot.com


Viação Mauá Ltda. Acervo pessoal.


Viação Santa Izabel Ltda. Acervo pessoal.


BIBLIOGRAFIA:

CARVALHO, Ariel. Fichas, vale de papel e cartão eletrônico. Uma breve história do ônibus no Rio de Janeiro. 26/03/2018. Fonte: https://misteriosnumismaticos.blogspot.com/2018/03/fichas-vale-de-papel-e-cartao.html?m=0 Acessado em 02/09/2020

CUNHA, Eduardo. A utilização das fichas. 23/04/2014. Fonte: http://rionibusantigo.blogspot.com/2014/04/a-utilizacao-das-fichas.html Acessado em 01/09/2020

FICHAS de ônibus. Espaço destinado a colecionadores de fichas de ônibus. Fonte: http://fichadeonibus.blogspot.com/ Acessado em 01/09/2020


Rui Aniceto Fernandes é professor de História do Departamento de Ciências Humanas (DCH) da Faculdade de Formação de Professores (FFP-UERJ).





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