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São Gonçalo como objeto de colecionismo: Flâmulas, por Rui A. Fernandes


Quando assistimos aos jogos da seleção brasileira de futebol, vemos o capitão carregando um galhardete, que é trocado com o capitão da seleção rival. A bandeirola representa o escudo da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e registra o evento. Esse é um dos poucos momentos que são visualizados hoje esse objeto que é mais conhecido como flâmula. Essa prática também é usual em jogos de times e em outras competições esportivas. Flâmula, galhardete, pendão, guião, estandarte, talão e bandeirola são sinônimos para identificá-los.

A flâmula, no entanto, tem origem militar. É um galhardete longo e estreito que deve ser arvorado no mastro principal de um navio de guerra, assinalando que ali há um oficial da marinha de guerra no comando.


Há quem defenda que sua origem remonta à primeira Guerra Anglo-Holandesa, ocorrida entre 1652 e 1654. O almirante holandês Marteen Tromp teria mandado afixar uma vassoura no alto do mastro central de seu navio simbolizando que varreria os ingleses do mar. O almirante inglês Robert Blake arvorou um chicote representando que chicotearia a armada holandesa. Blake venceu e os navios de guerra teriam passado a adotar a flâmula, que por ser longa e estreita, aludiriam a um chicote. Essa versão, no entanto, carece de comprovação documental. Certo é que desde os antigos egípcios as flâmulas são usadas nas embarcações. Durante a Idade Média, os cavaleiros tinham seus pendões levados na ponta das lanças, nos combates que participavam. Em momentos de guerra, os cavaleiros assumiam os navios mercantes e fixavam suas lanças nos mastros. As flâmulas teriam sido então um desdobramento do uso dos pendões medievais. No século XVII, era um símbolo de distinção dos navios de guerra dos navios mercantes. Em meados do século XIX, os navios de guerra passaram a ter um formato exterior peculiar, facilitando a identificação e levando as flâmulas a perderem essa função.

Ao longo do tempo, a flâmula passou a designar qualquer bandeira estreita, triangular ou farpadas, estampando insígnias militares, de clubes esportivos, de associações religiosas, sindicais, escolares, culturais, brasões municipais, estaduais ou de países etc. Também foram utilizadas como estratégias publicitárias ou confeccionadas para celebração de efemérides. Eram muito populares entre as décadas de 1950 e 1980.


Poucos exemplares foram localizados relativos a São Gonçalo. No site www.históriadofutebol.com o leitor poderá encontrar flâmulas e histórias dos times da cidade, como a do Cosmos Social Clube e do Mangueira Futebol Clube. Ainda relativa a clubes esportivos há a do Tamoio Futebol Clube, onde aparece o mascote do clube, um índio com seu arco e flecha. Ainda consta o emblema do clube e o seu nome.


Flâmulas fora dessa esfera esportiva, há uma promocional da Camisaria Nobre que estampava o Carequinha como garoto propaganda. Não temos informações se esse empreendimento comercial era gonçalense, mas o Carequinha sempre se afirmou como sendo um dos principais garotos-propaganda da cidade. Outra é uma flâmula para comemoração do aniversário de 74 anos de emancipação político-administrativa do município de São Gonçalo. Esta traz a informação de ter sido produzida pela gestão Joaquim A. Lavoura, personagem mítico na história política local. Esta flâmula é de 1964, quando o município comemorava seu aniversário de 74 anos e Joaquim Lavoura estava em sua segunda gestão municipal. Consta ainda a estilização de alguns espaços emblemáticos locais: a fonte luminosa da praça Estephânia de Carvalho – popularmente conhecida como praça do Zé Garoto –, o prédio da prefeitura local e o complexo hospitalar da sede municipal. Por fim, consta a data da emancipação 2-9-1890. Essas imagens são muito interessantes para pensarmos como a cidade era representada nas bandeirolas que fizeram parte da infância e juventude de gerações de gonçalenses.


Flâmula Cosmos Social Clube. Déc. 1980. Disponível em: https://historiadofutebol.com/blog/?p=99137


Flâmula do Mangueira Futebol Clube. 1960. Disponível em: https://historiadofutebol.com/blog/?p=122642


Flâmula do Tamoio Futebol Clube. S/d. Acervo Pessoal.


Flâmula Comemorativa do 74º aniversário de São Gonçalo. 1964. Acervo Pessoal.


Flâmula da Camisaria Nobre. S/d. Acervo Pessoal


Imagem 6: Flâmula da Campanha pró-aquisição de viaturas para o Corpo de Bombeiros. 1959. Disponível em: https://www.casadovelho.com.br/1d5c07/flamula-da-campanha-pro-aquisicao-de-viaturas-corpo-de-bombeiros-ano-1959


Bibliografia:

Flâmula. In: ESPARTEIRO, Antônio Marques. Dicionário Ilustrado de Marinha. 2ª ed. Lisboa: Clássica Editora, 2001.

Flâmula. In: https://pt.wikipedia.org/wiki/Fl%C3%A2mula Acessado em 06/09/2020


Rui Aniceto Fernandes é professor de História do Departamento de Ciências Humanas (DCH) da Faculdade de Formação de Professores (FFP-UERJ).




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