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São Gonçalo perdeu a fé - por Mário Lima Jr.


Igreja Matriz de São Gonçalo/Reprodução internet
Igreja Matriz de São Gonçalo/Reprodução internet

Poucas pessoas ainda acreditam que São Gonçalo seja capaz de construir um futuro de prosperidade e dignidade. A maioria da população, que precisa de sinais concretos para acreditar, como qualquer povo, já perdeu a fé há alguns anos, principalmente após o impacto da violência sobre o direito de ir e vir. A cidade completa 443 anos de fundação na próxima quarta-feira, 6 de abril. E sua principal característica se tornou a falta de fé em si mesma, além do sofrimento silencioso dos gonçalenses que moram em bairros dominados por bandidos.


O doloroso é que a falta de fé é uma exceção histórica. São Gonçalo não está acostumada a ser o “patinho feio” nem o “primo pobre” do Leste Fluminense, como a imprensa diz hoje em dia. Por quatro longos séculos ela não foi a melhor cidade do Brasil, mas também não sentiu pena de si mesma, como sente agora. E a imprensa, que hoje debocha, na primeira metade do século 20 chamava São Gonçalo de “Manchester Fluminense”, graças a sua força industrial. Época em que o município era atraente e observou uma gigantesca explosão populacional.


O povo gonçalense já planejou derrubar o governador do Rio de Janeiro, na Revolta da Cachaça, e derrubou. O povo quis inventar técnicas agrícolas que influenciariam o estado e o país, e inventou. O gonçalense quis que a segunda corrida automobilística do Brasil fosse nessa cidade agora esquecida, e cumpriu seu desejo. Outro gonçalense sonhou que parte da imprensa periódica da região deveria nascer no município, e fundou jornais regulares em São Gonçalo e Itaboraí. Diversas indústrias acreditaram que aqui seria um bom lugar para suas atividades e por décadas lucraram com isso. Esses e outros fatos históricos deveriam manter a fé do cidadão municipal acesa por mais quatro séculos, pelo menos daquele que não mora em rua bloqueada por barricada do tráfico de drogas.


Se os gonçalenses têm alguma culpa na crise atual, ela envolve o esquecimento do que São Gonçalo é capaz. Sequer os feitos mais recentes recebem a devida atenção. Até a década de 80, a alegria gonçalense tinha a missão grandiosa de abrir o Carnaval do Rio de Janeiro (O Globo). Alegria que projetou o maior palhaço do Brasil, o Carequinha. Hoje parece que São Gonçalo é habitada por uma população de infelizes aguardando sua vez no corredor da morte.


Os desafios do presente são enormes. Não significa que o passado tenha sido fácil. Cada realização municipal, como os atuais saraus de poesia e manifestações culturais nas praças, contou mais com a determinação de pessoas com os mesmos interesses do que incentivo do poder público. Se alguém decidir não fazer nada pelo bem da cidade, que ao menos não perca a fé.


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Mário Lima Jr. é escritor.




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