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São Gonçalo recebe R$ 111 milhões de dinheiro sujo do orçamento secreto

Por Helcio Albano

Foto: Reprodução Internet
Foto: Reprodução Internet

Quando moleque, já pra adolescente, vi muitos diletos amigos se perderem para o crime e o banditismo. Um dos sinais do descambamento fatal para tal caminho, era quando o garoto, deveras entregue à tortuosa e incerta vida, não escondia mais nem para mãe e pai o que entre amigos já ostentava no corpo ou no bolso como produto do roubo ou do ganho no varejo do tráfico.


Era comum que, tomados de vergonha e de um sentimento cortante de fracasso, ver esses mesmos pais arrancarem de casa e de suas vidas os filhos como se fizessem um expurgo público de sua dor. E dissessem em confissão, com altiva decência, embora dilacerados: eis que entregamos ao mundo um ladrão!


Faço essa breve digressão após ler matéria de O Globo que coloca São Gonçalo como o município brasileiro que, via Fundo Nacional da Saúde (FNS), mais recebeu dinheiro de emendas parlamentares em 2021 do malfadado orçamento secreto.


Os recursos da rubrica RP9, da ordem de R$ 111 milhões, chegaram a pedido do deputado federal Altineu Côrtes (PL), mentor do governo Nelson Ruas e aliado de primeira grandeza de Bolsonaro no Congresso.


A reportagem, assinada por um quinteto de jornalistas, mostra a discrepância de distribuição de recursos do SUS entre os municípios, que em 2021 somou R$ 7,4 bilhões só em emendas do relator, como o orçamento secreto também é conhecido.



A liberação do dinheiro tem como regra acontecer sem o mínimo de critério técnico, aumentando exponencialmente o poder de barganha de Bolsonaro com os parlamentares que, via de regra, vêm atendendo praticamente a todas as pautas consideradas mais importantes pelo governo federal.


E, claro, aumentando também a possibilidade de haver desvio do dinheiro em razão da dificuldade de rastreamento aonde é aplicado. Mas, quem liga pra isso?


O orçamento secreto é uma aberração. Jamais deveria existir. Pois subverte a lógica e qualquer regramento republicano de equidade entre estados e municípios.


É dinheiro público, meu e seu, negociado nas sombras por parlamentares venais da Câmara e do Senado no pantanoso terreno dos conchavos, mandando às favas a transparência e a publicidade exigidas com a intenção de se darem bem política e eleitoralmente da forma mais cretina e inacreditável possível. Embora o inacreditável não deva mais fazer parte da língua corrente desse país à deriva.


Tudo que é e permanece secreto é, no mínimo, inconfessável.


Quem a público vem ostentar produto de roubo e corrupção deve ser arrancado da vida pública e exposto, por nós cidadãos, pelo o que é: ladrão.

 

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Helcio Albano é jornalista e editor-chefe do Jornal Daki.



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