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São Gonçalo vira tema de música e de videoclipe de artista gonçalense

São Gonçalo, além de ser violeiro e protetor dos boêmios, agora também é tema e inspiração de música do cantor e compositor Velho Oliveira


Por Felipe Rebello

Velho Oliveira/Reprodução Facebook
Velho Oliveira/Reprodução Facebook

A importância de escrever sobre a sua cidade é primordial, porque mostra de onde você vem e fala do que você vive. Eu acho que quando você fala da sua cidade, está falando de si mesmo, porque ela influencia em você. Acho importante a colocar a cidade no mapa, pois uma coisa que sempre me incomodou é que São Gonçalo é muito mal falada, sua imagem fora da cidade é sempre muito negativa.”


Assim começa o relato ao Daki do músico, cantor e compositor gonçalense, Adriano Oliveira da Silva, o Velho Oliveira, 37 anos, sobre sua composição “São Gonçalo me Proteja” criada quase como uma oração ao padroeiro da cidade.


A música estreia em videoclipe nesta segunda (10), dia em que se celebra a morte do santo beato, Gonçalo Gonçalves, em 1262, em Amarante, Portugal.


Conversando com amigos compositores, Oliveira, por acaso, ouviu falar pela primeira vez do tal santo violeiro. Nascido em Niterói, mas gonçalense da gema e apaixonado por música e violão, logo quis saber mais sobre a figura religiosa. E em suas pesquisas pela internet descobriu que São Gonçalo, além de casamenteiro, é conhecido como protetor das prostitutas, boêmios e violeiros.


Foi a amor à primeira vista. Logo os caminhos do músico e do beato se entrelaçaram.



O cantor, morador de Tribobó, notívago por dever de ofício como todo músico, viu seu temor crescer ante uma São Gonçalo (cidade) cada dia mais violenta. Com frequência ouvia relatos de músicos que tinham seus instrumentos roubados, mas ele não tinha escolha senão se despedir da esposa com um beijo e andejar pelas ruas frias e perigosas da cidade noturna até alcançar os bares nos quais dedilharia suas canções.


Que opção Velho Oliveira tinha senão apelar ao padroeiro dos violeiros e boêmios? E qual a melhor forma de se fazer isso senão através de uma canção? Assim surgia a música “São Gonçalo me Proteja”.


“São Gonçalo me proteja, também o meu violão; Não deixe que nos façam nenhum um mal; E nem que roube o nosso som; Pois não perdoaram nem o Caetano”, diz o refrão do cancioneiro que, além de passar a toada de reza, também faz referência ao furto do violão de Caetano Veloso em uma cidade baiana em 2018, dias depois felizmente recuperado.



A composição da letra e da harmonia foi feita pelo próprio Velho Oliveira em 2017, gravada no Estúdio Dona Jassa, no Barro Vermelho, e produzida em 2020, pelo próprio compositor, contando com apoio da banda formada por Jorge Veloso (guitarras e contrabaixo), Lucas Toru (bateria) e Alan Robert (piano).


Devido à pandemia, seu processo de produção ficou suspensa de março de 2020 até outubro de 2021, quando a música pode ser finalizada.


Não para por aí. Velho Oliveira agora está dando mais um passo no enriquecimento de sua produção artística e vai lançar ainda hoje (10/01), no dia de São Gonçalo, o clipe de sua música apenas no YouTube, às 19h, no Canal Velho Oliveira, que você pode assistir clicando Aqui.


Segundo o artista, o videoclipe buscou inspiração não só na própria história do santo beato protetor dos marginalizados, como também na própria cidade para, numa perspectiva realista, mostrar tanto suas belezas, quanto suas mazelas, conforme disse o músico ao Daki.


O clipe conta com roteiro, produção, filmagem e produção artística de Alexandre Mundim e do próprio Velho Oliveira através da Sakura Produtora, tendo vários pontos da cidade de São Gonçalo como locação. Falar mais é spoiler.


A música e o clipe só foram possíveis devido à Lei Aldir Blanc (2020) que prevê auxílio financeiro ao setor cultural a fim de amortecer os impactos da pandemia do coronavírus no meio artístico e cultural.


O artista foi contemplado com um prêmio de R$ 2.500,00 por ter colaborado com a cultura da cidade, sendo que R$600,00 foi usado no clipe e o restante na produção do álbum O Artista Desconhecido, que será lançado no fim de 2022.



Breve história do santo que não é santo, mas beato

Gonçalo Gonçalves nasceu em 1187 na cidade de Vizela, e morreu em 10 de janeiro de 1262, em Amarante, Portugal.


Em 1561, três séculos após sua morte, o Papa Júlio III promulgou sua sentença de beatificação tornando-o oficialmente beato perante os devotos e a Igreja Católica, condição que perdura até os dias de hoje, embora populares o considerem santo, principalmente entre os pobres e excluídos.


Os violeiros têm Gonçalo, também músico e festeiro, como padroeiro.


E se não bastasse tudo isso, o santo beato divide com Santo Antônio o título de santo casamenteiro, porém das mulheres mais velhas não virgens.


Em Amarantes mantém-se a tradição de distribuição dos “caralhos de São Gonçalo”, "patrimônios da cultura portuguesa, como pedido e pagamento de promessa pela alegria nos sortilégios da paixão", como diz o historiador Luis Antonio Simas, condensada numa trova:


"São Gonçalo de Amarante

Casai-me que bem podeis,

Já tenho teias de aranha,

Naquilo que vós sabeis."


Em 2013, através de promulgação do Legislativo, São Gonçalo instituiu o dia 10 de janeiro como feriado municipal.


Edição: Helcio Albano.

 

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Felipe Rebelo é professor de História e psicopedagogo.



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