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São Gonçalo é fundamental para a Cultura do RJ - por Mário Lima Jr.


Foto Reprodução
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Nenhum outro município do Rio de Janeiro faz tanto pela cultura do estado com tão pouco à disposição. São Gonçalo realiza o maior festival de cinema da região leste fluminense, o Cine Tamoio. Produz duas grandes feiras literárias por ano, o Flisgo e a FISG, com a presença de artistas da cidade e de renome nacional. Monta rodas culturais espalhadas nas praças dos quatro cantos do município, como a Roda Cultural do Alcântara, frequentadas rigorosamente, toda semana, pela juventude. Movimento que gerou nada menos do que os rappers brasileiros mais ouvidos hoje em dia nas plataformas digitais, de São Gonçalo para os telões da Times Square (Jornal Extra).



Na arte urbana em geral, que além do rap envolve o grafite, São Gonçalo é rica, inovadora, inspira inclusive a capital e exporta profissionais para o mundo inteiro. Palavras de um especialista cultural da altura de Marcelo Yuka, quando esteve na cidade para uma série de palestras. Para ser mais preciso, as palavras de Yuka não diziam que São Gonçalo ocupa posição de vanguarda apenas na produção cultural, mas também no que se refere a mobilização social. Os gonçalenses se movem pela vida e por direitos e com eles movimentam a região metropolitana. Tudo isso com apoio tímido e precário do governo municipal, que na maioria das vezes não passa de uma faixa de arame, sarrafo e ráfia para ser pendurada na entrada dos eventos. Não raro a faixa, ou uma caixa de som emprestada, é prometida, nunca chega, ignorada ou negada sem explicações, como aconteceu com o Uma Noite na Taverna, evento gratuito de poesia, literatura, música e artes de mais de uma década.



Não há cidade de maior impacto e alcance para políticas públicas no Rio de Janeiro, até porque São Gonçalo é dona da segunda maior população do estado. Para democratizar o acesso à cultura, pensando além da capital, como prega a atual gestão da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado do Rio de Janeiro, nenhuma cidade pode ser esquecida. Por menor que seja, suas características devem ser avaliadas para a criação do melhor planejamento possível, trabalho mais profundo do que a publicação de editais. Ignorar o papel que São Gonçalo tradicionalmente desempenha seria o caminho mais rápido para reproduzir o erro de gestões anteriores, que não compreenderam o processo cultural nas mais simples relações humanas. Como no cuidado com a terra, como lembrou a secretária estadual de cultura Danielle Barros em entrevista ao Jornal O Globo há quase dois anos (O Globo).



No território onde está localizada a Fazenda Colubandê, um dos espaços coloniais de maior importância do Brasil, onde nasceu a Umbanda e acontecem a Festa de Iemanjá e o maior tapete de Corpus Christi da América Latina, as multidões ainda se olham nos olhos quando se cruzam na rua. Por isso São Gonçalo é forte.

Mário Lima Jr. é escritor.



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