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Um piscar de olhos, por Fábio Rodrigo


Era um daqueles cenários de música underground. Situado bem ao fundo do ambiente, o palco mal-iluminado era o local perfeito para um show intimista. O cantor se apresentava diante de um público composto por não mais que vinte pessoas. Eu estava exatamente em frente ao palco. Era o único que não tirava os olhos de sua apresentação.


O artista é uma lenda da música, cujas canções serão eternamente guardadas na memória de cada um de seus fãs. Com seu violão, ele relembrava seus grandes sucessos. Assim que terminou de tocar Knockin’ on Heaven’s Door, fui o primeiro a aplaudir. Me dirigi a ele e contei o grande apreço que tenho por suas canções. Expliquei que tinha vindo de longe para vê-lo cantar. Ele agradeceu muito e já se preparava para outra música. Falei que não poderia deixar de tocar Like a Rolling Stone. Interrompi-o diversas vezes somente para lembrá-lo disso.


Em um destes instantes, tudo se desconstrói à minha frente. Um piscar de olhos retirou das minhas retinas o Bob Dylan. Vejo agora um desconhecido artista que ganha seu dinheiro suado em apresentações pelos acanhados bares da cidade. Olhei para ele e não entendi a mudança. Quem é este cara? Onde está o Bob Dylan? Agora percebo que o público interage perfeitamente com o artista. Tento fazer com que ninguém perceba minha decepção e me deixo envolver com a música que comanda o ambiente.


Eu era mais um do público que acompanhava a exibição do artista. Mesmo com minha animação em baixa, eu não tirava os olhos de sua apresentação. Quem sabe assim eu poderia fazer o Bob Dylan subir ao palco novamente.


Fábio Rodrigo Gomes da Costa é professor mestre em Estudos Linguísticos.




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