top of page

Vítor Reis de Amorim - por Mário Lima Jr.


Victor/Reprodução Internet
Victor/Reprodução Internet

Vítor tinha 19 anos e morava em São Gonçalo. Era lutador de boxe e muay thai matriculado na Federação Estadual de Esporte Socioeducativo e Pugilismo do Rio de Janeiro (FPERJ). Socioeducativo, vale destacar. Vítor fazia parte de um grupo cujo objetivo oficial é promover a cidadania através do esporte. A matrícula de Vítor continua ativa e disponível para consulta no site da federação usando o nome do atleta. O número da matrícula é 20210358. O suor de Vítor lutando no ringue queria transformar o Rio de Janeiro em um lugar melhor. O sangue do jovem, derramado em solo gonçalense enquanto agonizava por 30 minutos antes de morrer baleado pela polícia, diz que fomos derrotados.



Um vídeo de setembro do ano passado mostra Vítor pendurando a nona medalha na parede. Um lutador com tantas vitórias em competições estaduais é alguém que não desiste facilmente. Os treinos na Equipe PRVT eram cansativos e constantes. Para se recuperar, o Rio de Janeiro precisa treinar algo novo: conhecer quem foi Vítor Reis de Amorim. Precisa saber quem matou. Os jornais dizem praticamente o mesmo sobre a morte dele e quase nada sobre sua vida. Há notícias sobre inocentes mortos pela polícia quase todas as semanas, a opinião pública não se sensibiliza nem se dá ao trabalho de pesquisar sobre as vítimas. A declaração oficial da polícia e a versão dos parentes dos mortos parece copiada de um texto antigo para o novo.


O email de Vítor era reisv8636@gmail.com. O telefone dele era (21) 99162-2155. Não podemos mais entrar em contato. As paixões e a rotina de Vítor desde 2018 estão na sua conta pública no Instagram (@vitor.reis7). Não adianta reagir ou comentar. Vai confortar você e não vai trazer Vítor de volta. Da primeira a última foto, inclusive na foto do perfil, ele exibe vida, luta e alegria. O esporte era tudo. Preenchia seus pensamentos, suas vontades. Trazia amizades e sorrisos. Quando publicava uma selfie, se chamava de gato, de gostoso. O bom humor era regra. Quando lutava, era veloz, corajoso e até ousado. Nas respostas aos comentários de incentivo do irmão mais velho, Vítor dizia que o amava. Irmão que agora exibe uma foto preta no perfil onde está escrito “Luto”.



Vítor era do tipo de jovem extrovertido que não tem vergonha de amar publicamente. Torcia para o Fluminense e tinha o sonho de entrar para o UFC. Sonho que seu treinador abraçou e que foi roubado dos dois. Roubado da família inteira. No enterro de Vítor, o treinador chorava tanto quanto o pai do menino, carregando as medalhas do filho no peito para provar que ele não era bandido. Provar pra você e pra mim. Os amigos que treinavam com Vítor estão devastados e inconsoláveis. São da mesma classe social e no fundo sabem que amanhã um deles será a vítima. A pena de morte imposta a pobres no Brasil mata até a reputação de campeões.

 

Ajude a fortalecer nosso jornalismo independente contribuindo com a campanha 'Sou Daki e Apoio' de financiamento coletivo do Jornal Daki. Clique AQUI e contribua.

Mário Lima Jr. é escritor.




POLÍTICA

KOTIDIANO

CULTURA

TENDÊNCIAS
& DEBATES

telegram cor.png
bottom of page