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Yara Matias: Competência e Resistência agregada a um nome, por Oswaldo Mendes


O Brasil é um país machista e extremamente preconceituoso e como tal esse aspecto poderia se refletir em todos os espaços da Sociedade. Sabemos que a Mulher, mesmo tendo mais estudo, diferenciação cognitiva, decisões mais ponderadas, tem a dificuldade no mercado de trabalho para serem adequadamente remuneradas ou reconhecidas pelas suas qualidades, que não são poucas.


Elas, Mulheres, não são objetos e nem as queiram coisificar. O espaço para a Mulher é onde ela quiser, tema de Escola de Samba no ano de 2020 e a Mulher está, e sempre esteve, presente inclusive nas Alas de Compositores.


Nomes como Ivone Lara, Manu, Yara, Dirce, Valéria, Karla, Jaqueline, Cinthia e tantas outras que lutaram com competência e assim conquistaram espaço nesses locais. Mulheres de nome e sobrenome Resistência.


Nascida em 16 de maio de 1958, natural do Rio de janeiro, no bairro da Ilha do Governador, filha de pai muito atencioso e que tinha como profissão Policial e mãe inesquecível que era da área da saúde. Cresceu como todas as crianças da época, entre bolas, bonecas, peões e carrinhos de rolimã. Infância feliz.


Morando muito próximo à quadra da escola de samba, viu, ouviu e acompanhou de perto o crescimento da União da Ilha do Governador, participando de sua Comunidade e de seus desfiles. Aos 20 e poucos anos saiu da Ilha e começava a visitar outras escolas de samba, sempre de forma discreta, sem se envolver diretamente, mas dando sua contribuição na comunidade.


Integrou a Unidos da Tijuca, Vila Isabel e Salgueiro, emocionando-se em vários desfiles dessas agremiações. O Mundo do Samba fluía em suas veias. Estar perto das Comunidades era e continua sendo o melhor acontecer da vida. Gostar de gente. Gostar de Povo.


Passaram-se os anos e veio morar no lado de cá da poça, divisa entre São Gonçalo e Niterói, no bairro de Cala Boca. Um dia, nos meados de agosto de 2003, foi convidada a conhecer a quadra da Unidos do Viradouro, pelas mãos de Maria Regina, que na época era componente da ala dos compositores da escola.


Ao ouvir a batida da bateria, o olhar das pessoas, e ser tão bem recebida por uma linda baiana já falecida (Elisa), viu que ali tinha acabado de acontecer uma linda paixão. Foi amor à primeira pisada na quadra. Viu que na Vermelho e Branco de Niterói seria o seu lugar e que poderia ajudar, participar, se envolver de alguma forma para seu crescimento e da Viradouro.


“Bravo, bravíssimo”. Dercy foi arrebatador em sua decisão de ficar na escola, seja pela homenagem à artista - que tinha aparência física com a tia dela – ou seja pela bela obra em seus pequenos detalhes ou pelo carnaval apresentado. “Era impossível não se emocionar, amar, deixar transparecer as emoções mais profundas. Inimaginável esquecer”, cita Yara.


Inicialmente desfilou dois anos seguidos em alas comerciais. Em 2006 foi apresentada a PC Portugal – Presidente da Ala de Compositores da Viradouro e através de amigos que foi conquistando no caminho, pois alguns sabiam da sua condição de Escritora e Poetisa. Assim começou a tentar galgar um lugar na Ala dos Compositores que, depois de algum tempo, com trabalhos realizados com a devida comprovação de competência e as devidas observações foi aceita pelo presidente PC Portugal, onde orgulhosamente a integra.


Um dos diferenciais da Ala de Compositores da Viradouro é a grande presença e participação efetiva feminina. Um espaço harmonicamente dividido, porém, conquistado historicamente por todas as Mulheres. Isso diferencia a Viradouro e sua Ala de Compositores da maioria das demais Escolas.


Disputou sambas enredos nos anos de 2006, 2007,2008 e 2009, onde agregou muito conhecimento pessoal e mais técnicas para o escopo de samba. Um crescimento contínuo e a construção de uma estrada de vida na qual se espelha em diversas pessoas a qual denomina de Mestres. Ajudou e foi ajudada. Cresceu e muito agradece por tal.


Por motivo de saúde, teve que se afastar das disputas nos anos 2010, 2011, 2012 e 2013, porém, fazendo parte dos quadros da ala, contribuindo de forma indireta, participando em todos os momentos, inclusive das eliminatórias onde acontecem as escolhas de sambas enredos, onde são apresentados diversos sambas-concorrentes realizados através de uma sinopse anteriormente entregue de forma tempestiva e igualitária a todos e todas.


Um samba, um poema, uma pintura, uma música para seus autores é como se fosse seu filho que nasce e lentamente acompanha o crescimento. Essa é a visão do Artista e que, em Escolas de Samba, tem que se superar, pois a sua obra nunca pode ser maior do que o amor à escola. O componente da Escola quer assim que seja escolhido o melhor, aquele que possa representar a todos e todas com galhardia, explica a Yara.


Torcer para que o melhor samba representasse a Viradouro na avenida.


Voltou às disputas em 2013, em 2014 com um samba de quadra. Já em 2015 não houve disputa e sim a reedição de samba. Participou também em 2016, 2017 e 2018 com sambas concorrentes próprios. Seu nome já era conhecido na quadra: a Compositora Yara.


Já em 2019 foi convidada por um amigo para uma nova experiência e assim disputar numa escola de samba virtual em homenagem ao inesquecível Jorge Lafond. Entre dezenas de concorrentes teve a honra de ficar em segundo lugar. Quanta alegria e felicidade!


Essa é a trajetória da Yara Mathias no Mundo do Samba. Considera que nada de mais, apenas respeitando o chão que pisa, os mais antigos, agradecendo a todos os Compositores que, como uma verdadeira família sempre de braços abertos e corações cintilantes buscam uns aos outros ajudar, sempre em trazer ensinamentos, ao carinho especial pela Galeria da Velha Guarda, aos amigos que fez na ala e nos demais segmentos da Escola, aqueles que já partiram, mas que representaram muito em sua vida carnavalesca e pede a Deus para que possa continuar a versar para essa escola, Viradouro, que é infinitamente apaixonada...


Com diversos projetos em pauta vê a imagem do samba cada dia mais diferenciada e convoca outras Mulheres a participar não só do Samba, mas de todos os segmentos da Sociedade, pois competência e coragem não faltam.


“Sou feliz em dizer que faço parte do seleto grupo de poetas da Unidos do Viradouro. Ganhei amigos e cada dia aprendo mais e mais. Minha casa. Meu lar. Meu saber”.


Essa é a nossa Yara Mathias, Compositora da GRES Unidos do Viradouro.

Oswaldo Mendes é engenheiro.




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