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São Gonçalo sitiada - por Paulinho Freitas

SÃO GONÇALO DE AFETOS


Foto: Divulgação
Foto: Divulgação

Num trabalho extra que faço, para ajudar a pagar as contas, visito os bairros da cidade. Com muita tristeza percebi que não podemos mais visitar parentes ou ver um local de bela vista ou pastagens, não podemos ser visitados, não podemos ficar em nossas calçadas, pois as ruas transversais às principais estão lotadas de barricadas.


Os guris de 16/17 anos com motos sem placas e com os celulares na cintura simulando armamento passam em alta velocidade e simulando disparos de armas de fogo nos canos de descargas das motos e as meninas, com os olhos vidrados naqueles que usam com orgulho e como adereço as famosas tornozeleiras eletrônicas, alisam com amor as crias dentro de suas barrigas que nem sabem o que as espera aqui fora. Se soubessem nem participariam da corrida de espermatozoides por correrem o risco de ganharem.


Num desses bairros andei em círculos procurando uma entrada e tive que desistir, pois além das barricadas um desses meninos, por me verem mais de uma vez numa mesma entrada, me pediu “gentilmente” que me retirasse antes que ele acabasse de “apertar” seu baseado, que ele não ia acender naquela hora.



Saí revoltado por ter que abaixar a cabeça e sair com o rabo entre as pernas, submisso a um guri que nem saiu direito dos cueiros, me mandando “ralar peito” do bairro o qual ele e seus coleguinhas que deveriam estar soltando pipas, jogando bolas de gude e estudando no CIEP que está lá, fechado e servindo de abrigo para moradores de rua, porque os professores não tem acesso às vias que os possa levar à escola e os equipamentos que os deviriam dar conforto foram furtados. Não sei o que é maior, a revolta, a tristeza ou a impotência diante dos fatos.


Lembrei que em 2020, quando as campanhas eleitorais ferviam de propostas eleitoreiras, certo candidato foi interpelado por um repórter com a seguinte pergunta: _E as barricadas, como o senhor pretende resolver? E este candidato, como um super-herói contemporâneo, enche o peito de ar e responde: _ Vou arrancar tudo! Ao redor dele, as bandeirinhas patrocinadas balançavam ao vento e as pessoas gritavam o tradicional vivas, fazendo o candidato feliz.


As eleições foram vencidas pelo tal super-herói que até hoje não viu sair as barricadas que existiam e nem viu as muitas que apareceram depois.


Esta semana, na Estrada Raul Veiga, em pleno bairro de Pacheco, não se ia e nem se vinha.


Um ônibus foi atravessado na pista às barbas de atônitos policiais, que armados até os dentes estavam à mercê dos criminosos, pois a população, em sua maioria trabalhadora estava toda na rua em seus afazeres e qualquer disparo poderia ocasionar mais um inocente no céu. Meu trabalho não pôde ser concluído, quem ia para o trabalho, não foi. Quem ia para a escola, não foi. A única coisa que passou foi o tempo. Que se foi.


Estou convencido de que escolhemos errado nosso super-herói. Aliás, onde será que ele anda? Aí você vai me dizer: _Está inaugurando praças, tão importantes ao lazer de nossa população! E eu te respondo: _ Só se for nos bairros centrais. Nas periferias ele não pode entrar. Estão cheios de barricadas.


Alguém aí sabe onde compra aquele holofote do Batman, para colocar em São Gonça City?


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Paulinho Freitas é sambista, compositor e escritor.



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