Ser feliz, é ser feliz. Nada mais!
SÃO GONÇALO DE AFETOS
Por Paulinho Freitas

Coronel Ferreira era o terror dos subalternos. Quando o carro dele apontava na cancela do quartel era uma tremenda correria. Ninguém queria ficar no caminho dele. Ele procurava cabelo em ovo. Se visse um cisco na farda de um comandado já fazia pagar flexões, ou outro exercício qualquer, na frente de todos, só para humilhar e mostrar que o militar é exemplo.
Quando lhe dirigiram a palavra era só para repetir: “Sim, Senhor”. Ele não admitia “não” como resposta. Qualquer deslize era punido com cadeia firme. Dentro do quartel era guardião do moral e bons costumes. Jamais falava um palavrão ou saía de sua boca assuntos que denegrissem o bom e correto conviver militar.
Já em casa, Ferreira era casado com Romilda, sua primeira namorada. Fazia tudo o que ela queria. Era bom amante, bom amigo, uma flor de pessoa, como se diz por aí. Desse casamento quatro filhos nasceram, dois meninos e duas meninas que cresceram com um paizão jamais visto no quartel. Ferreira era um paizão mesmo. Era confidente das meninas, antes da mãe saber que estavam namorando, Ferreira já sabia e inclusive já tinha tomado um chopp com o pretendente. Com os meninos não era diferente. Ferreira era o pai que todo mundo queria ter.
Para os vizinhos a casa de Ferreira era uma bagunça. A filha mais velha separou do marido, casou-se com outro e dessa união, um lindo bebê nasceu. Normal, o que as pessoas não entendiam era que o padrinho da criança é o ex-marido, que nunca deixou de frequentar a casa, pois casou-se com a irmã dela. Um dos filhos, depois de uns anos casado, ouviu a voz de seu coração, se libertou de preconceitos e medos, assumindo sua preferência por pessoas do mesmo sexo.
Sua ex-esposa, pela lógica, sairia excomungando ele e a família dele, que o apoiou, inclusive abraçou como filho o rapaz que com ele foi morar, era a primeira a chegar para ajudar nos preparativos dos almoços de domingo, quando a casa ficava lotada de parentes e amigos que após o almoço passavam a tarde gargalhando das histórias de Ferreira e depois faziam uma roda de batucada que ia até tarde da noite. O filho caçula resolveu seguir os passos do pai, prestou concurso numa escola de oficiais e está cursando. Grande piadista, imita o pai, fazendo poses caricatas e é a alegria em pessoa.
Numa cadeira de balanço no alto da varanda, Ferreira lacrimejava, vendo a família crescer unida e feliz. Sabia que a areia de sua ampulheta não parava de escorrer e ia sentir muito deixar esta vida. Quando perguntavam a ele o que achava dos vizinhos que desaprovavam o conviver com sua família, ele respondia: _Que Morram!
Obs: Qualquer semelhança com fatos ou nomes reais é mera coincidência e me desculpem a redundância com outra história já contada aqui, mas “FAMILIA BONITA, É FAMILIA FELIZ”
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Paulinho Freitas é sambista, compositor e escritor.