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Um olhar pela janela: Guaxindiba como lugar de memória, por Erick Bernardes

Não é difícil falar de Guaxindiba quando me encontro motivado por algumas referências importantes: fábrica de cimentos Mauá, estrada BR 101 cortando o lugar, chácaras e sítios espalhados pela região, dentre outras informações. No entanto, sempre tem alguém que quer saber o significado do nome. Por conta disso, começo com a simples explicação, satisfaço a vontade do leitor e economizo tempo e disposição. Guaxindiba significa em língua Tupi: “planta aquática de beira de rio”. Contudo, se a pressa não é tão grande assim, convido você a continuar essa história que me foi narrada pela colega Alessandra, professora nascida e criada em Guaxindiba, município de São Gonçalo.

Bem, nessa parte de chão gonçalense onde passavam trens com fins de produção industrial de cimento e outros produtos não menos importantes, nasceu a nossa amiga Alessandra. Sim, lá onde no passado as terras foram bem cultivadas pelo empresário Carlos Gianelli. A nossa narradora já formada professora na faculdade escreveu esta história aqui oferecida a você com carinho. E foi dessa forma, mergulhando no tempo, que esta história começa com ela mesmo narrando, em tom de confissão.


— Quer um pouco de suco, meu bem? Talvez um café?

— Prefiro um cadinho d'água, obrigada.


“Eram 11 horas da noite. Na sala de casa já com as crianças dormindo e o maridão fazendo companhia. Eu, Alessandra, escrevi os primeiros parágrafos dessa narrativa. Ouvia a Rádio Relógio como se fosse um tipo de mantra matinal pulverizando conhecimentos excêntricos que tão logo seriam esquecidos no corre corre cotidiano de educadora dedicada. O meu esposo muito companheiro e solícito nunca deixou de me emprestar os ouvidos. Então segredei:”

— Já sei! Vou misturar minha biografia com uma descrição sobre a vida lá em Guaxindiba. Que tal?


“Daí por diante, sem sombra de dúvidas, minha monografia saiu como parte a ser compartilhada com o mundo. Com o pensamento ainda em retrospecto, decido me despir de qualquer ansiedade e preocupação, apoio os cotovelos na base da janela, sinto a brisa tocar meu rosto sem maquiagem. Suavidade do ar por causa da proximidade com a Baía da Guanabara. Verdade, Guaxindiba é circundada pelas águas, isso pouca gente sabe. A tal planta que deu registro ao bairro pertence à família das malvas e tem por nome científico Kydia brasiliensis. Perceba a brasilidade até aí. Uma pena não ser mais assim. Consideravam uma vegetação comum na região, mas hoje se encontra quase extinta. Havia um cano furado com o qual, em dias bem quentes, tomávamos banho na rua. Papai ficava vigiando. Tempo bom, meu Deus! Por isso escrevo, falo sobre tudo que experimentei na infância e aquilo que meus filhos jamais experimentarão”.


“Hoje, não há trem circulando pelo território. Agricultura familiar diminuiu drasticamente. Chamam a isso progresso? Dizem que a tecnologia deu suas caras por Guaxindiba. Sei disso não. Não é o que se vê por aí. Bom, necessário voltar ao presente e abandonar o encontro com minha recordação. Eu era só uma menina. Nostalgia, eu sei, melhor sair do parapeito da janela e retomar a realidade. Acho que ouvi ao longe um certo pipocar estranho que não é bombinha de festa junina. Vou ficar quietinha e assistir a minha novela, enquanto a querida Guaxindiba tenta dormir tranquila. Eu disse tenta”.



Erick Bernardes é escritor e professor mestre em Estudos Literários.


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