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Democracia

Por Hélida Gmeiner Matta

Reprodução
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Minha trajetória estudantil iniciou nos piores anos da ditadura militar. Entrei no Jardim de Infância, hoje chamada Educação Infantil, em 1968, ano do AI-5. E conclui a educação básica (como hoje a conhecemos) em 1985, quando a ditadura estava enfraquecendo, prestes a dar lugar a tão almejada - e que custou tantas vidas - democracia.


Penso sobre isso enquanto educadora a dois dias de mais um pleito eleitoral. Essa reflexão me faz pensar na responsabilidade que carregamos enquanto formadores, educadores e muitas vezes, exemplo.


Quando iniciei a trajetória docente, vivíamos uma euforia democrática, e experimentamos uma liberdade de cátedra que só era prejudicada pela carência estrutural da educação. Escolas decadentes e carreira desvalorizada. Mas a gente podia explorar a nossa criatividade.


Eleições foram simuladas, inclusive com o nome dos candidatos reais. Os debates incluíam os programas de governo oficiais. Havia uma crítica social possível, e os grandes temas sociais entravam na pauta. Tudo ainda muito desarticulado, heterogêneo, pois dependíamos de nossa própria iniciativa.



A última década do século XX trouxe duas influências fortes para a sociedade e, portanto, para a educação: Uma pauta legislativa mais consistente em relação aos direitos sociais, que acompanharam a recém aprovada Constituição Federal, em 1990 foi aprovado o ECA, na educação tivemos a LDB em 1996, e o FUNDEF em 1997. Ao mesmo tempo houve um sensível aumento das religiões conhecidas como "evangélicas", quando explodem as religiões neopentecostais. Oscilando entre avanços de direitos e retrocessos no campo espiritual.


Em pouco tempo vimos nossa liberdade de cátedra cerceada pelas orientações religiosas dos estudantes e suas famílias. Pouco a pouco fomos cedendo, deixando para trás a convicção de que educar para a cidadania era ensinar com ênfase à tolerância.


Em seguida, o medo da violência, alimentada pela guerra ao tráfico, capturou nossa coragem para tratar das questões que fossem sensíveis nesse sentido.


Por fim, nos últimos anos, veio o movimento Escola Sem Partido, reclamando uma neutralidade, que sabemos falsa, desde que Paulo Freire nos havia feito entender.


Às vésperas de uma eleição, que é também um plebiscito implícito, em que disputam o estado democrático de direito e o autoritarismo, é preciso bradar, ainda que amedrontados, pela manutenção do maior bem que conquistamos, a democracia brasileira.


Que a Democracia vença esse plebiscito no domingo, que seja uma vitória significativa, e que seja respeitada. E principalmente, que essa vitória seja capaz de devolver aos educadores e educadoras, como eu, a coragem e o direito constitucional de educar com liberdade e consciência.


Colaboração: Rafael Negro Dias

 

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Hélida Gmeiner Matta é professora da Educação Básica da rede pública. Pedagoga, Especialista em alfabetização dos alunos das classes populares, Mestre em Educação em Processos Formativos e Desigualdades Sociais e membra do Coletivo ELA – Educação Liberdade para Aprender.



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