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No Espaço Raul Veiga todos pertencem à São Gonçalo - por Mário Lima Jr.


Foto: Reprodução
Foto: Reprodução

Antes de receberem a licença oficial emitida pela Prefeitura, os vendedores do recém-construído Espaço Raul Veiga identificaram as barracas, onde conquistam o pão de cada dia, escrevendo seu nome à caneta no compensado de madeira. Num cantinho, de forma delicada, ou no meio da divisória da barraca, em letras grandes, estava escrito “Maria”, “Nelma”, “Antonio” e outros nomes. Escritos por mãos diferentes que se unem no mesmo pacto de sobreviver em São Gonçalo. Quem realmente precisa da cidade não pensa duas vezes – entrega seu nome, sua vida e tudo o que for necessário sem hesitar.


Os nomes continuam no mesmo local, mas agora ficou difícil lê-los. Alguns vendedores forraram as divisórias com plástico ou papel para decorar as barracas do seu jeito, ou simplesmente penduraram seus produtos na parede para exposição. A licença, plastificada, ocupou lugar de destaque porque desde o princípio o fundamental sempre foi afirmar quem é o dono, ou dona, daquela barraca, daquele pedaço de São Gonçalo. E ai de você se tentar roubá-lo. Ai de mim se eu atrapalhar o trabalho honesto dos meus conterrâneos.



Quem vende no Espaço Raul Veiga pertence à São Gonçalo de maneira especial. Menos importa se por amor ou necessidade. Manifestações opostas dominam as redes sociais, publicadas por gonçalenses que não suportam mais viver no município e gostariam de sair correndo imediatamente, por ódio ou medo. Como passamos bastante tempo online hoje em dia, podemos nos confundir. O fato é que a Internet não reflete com justiça o relacionamento entre São Gonçalo e seu povo. O cidadão gonçalense não passa o dia inteiro no ócio, reclamando da vida, buscando uma chance de se mudar. Na verdade a mudança está distante da maioria da população.


São Gonçalo é fonte de sustento pra maior parte dela. Não é cidade dormitório. Não é celeiro. E quem compra no Espaço Raul Veiga também escreve seu nome nos limites do município e passa a pertencer a ele. Com a irreverência que estudantes do Ensino Fundamental escrevem seus nomes nas carteiras escolares. A alegria infantil tem mais a ver com a vida em São Gonçalo, ainda que cheia de dificuldades, do que a falta de esperança dos adultos que culpam a cidade por tudo no Facebook, no Twitter e no Instagram. Afinal, reunimos nada menos que 20 mil pessoas pra brincar, em uma das maiores festas anuais do município (Prefeitura de São Gonçalo).


Amanhã de manhã, frutas e verduras estarão lá, fresquinhas, no Espaço Raul Veiga. Pra quem quiser tomar um café, tem barraca com salgado e suco. Tem até peixaria, lugar pra consertar o celular, comprar bolsas e outros itens de vestuário. Cada barraca oferece, acima de tudo, uma oportunidade de pertencer à São Gonçalo.

 

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Mário Lima Jr. é escritor.



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