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Tamoio 'destombado' segue destino de 3º BI - por Helcio Albano


Alexandre Gomes (PV), gesticula ao centro. Houve início de confusão e troca de acusações entre representantes do Tamoio e o parlamentar. A sessão chegou a ser interrompida/Foto: Reprodução Facebook
Alexandre Gomes (PV), gesticula ao centro. Houve início de confusão e troca de acusações entre representantes do Tamoio e o parlamentar. A sessão chegou a ser interrompida/Foto: Reprodução Facebook

Nesta quarta (23.02.22), vereadores de São Gonçalo, repetindo o que já ocorrera em 2013 com o 3º BI, na Venda da Cruz, reverteram mais um ato de tombamento de patrimônio histórico e cultural do município.


A bola da vez foi o centenário alvinegro da Brasilândia, o glorioso Tamoio Futebol Clube (TFC), fundado em 1917 e reconhecido oficial e legalmente como Patrimônio Histórico e Cultural do Município em 2017 pela mesma Câmara que agora o rebaixa a um “elefante branco” que “atrapalha o desenvolvimento econômico da cidade”, segundo ouvi, in loco, dos defensores de sua demolição. O que mudou?


Numa tarde melancólica, de ruas do entorno e galerias do Palácio 22 de Setembro vazias e silenciosas, 14 dos 24 vereadores presentes ao Plenário Joaquim Lavoura disseram sim ao projeto de lei 0028/22, de iniciativa material do vereador Cacau (Cidadania), mas de autoria intelectual do líder do governo Nelson Ruas (PL) no parlamento, Alexandre Gomes (PV).



Oito votaram contra, três faltaram à sessão e dois saíram “à francesa” do plenário sem registrarem o voto. Antes, o requerimento de urgência para apreciação do projeto de lei havia sido aprovado de lavada por 18 vereadores, com apenas 4 votos contrários. Fatura liquidada.


O documento, protocolado em 14 de fevereiro e de tramitação recorde nas comissões da Casa Legislativa, não era necessariamente um projeto de lei mal escrito, de urgência desnecessária e contrarregimental, mas um despacho dos adquirentes do Tamoio em leilão, que usaram os vereadores como simples despachantes dos seus interesses em detrimento do interesse público (Leia no final o projeto de lei). Uma vergonha que deveria corar a cara de quem a tivesse.


Projeto e tramitação foram feitos nas sombras e à toque de caixa. E nas sombras devem ficar suas reais motivações se o ato criminoso contra a municipalidade não despertar interesse do Ministério Público, o único capaz de puxar a genealogia desse desastre cívico que tem início há pelo menos 30 anos.


Porque, da sociedade e da classe política, como provado ontem, nada virá em defesa do Tamoio e da identidade gonçalense logo-logo sob escombros.


Plus

Na hora da votação, 22 dos 27 vereadores presentes se manifestaram dessa forma, a favor ou contra o destombamento:


SIM = 14

Alexandre Gomes (PV), Cacau (Cidadania), Bruno Porto (Cidadania), Diney Marins (Cidadania), Felippe Guarany (PRTB), Alex Loreti (PRTB), Claudinei (Republicano), Beto da Serraria (Avante), Magu dos Brinquedos (Avante), Evangelista Ubirajara (PP), Juan Oliveira (PL), Piero Cabral (PMB), Glauber Poubel (PSD), Pablo da Água (PT).


NÃO = 8

Lecinho (MDB), Cici Maldonado (PL), Vinícius (SDD), Pedro Pericar (PSL), Romario Regis (PCdoB), Prof. Josemar (Psol), Priscila Canedo (PT), Nem da Pank Motos (PSL).


Cinco vereadores não participaram da votação, sendo que três por não comparecerem à sessão e dois por saírem dela antes de registrarem os seus votos.


FALTARAM = 3

Jorge Mariola (Podemos), Nelsinho (Avante) e Nathan (Republicanos).


AUSENTES = 2

Armando Marins (PSC), Tião Nanci (PV).


Bônus

Na hora da votação, os vereadores Armando Marins e Tião Nanci, sobrinho do ex-prefeito Zé Luiz, se levantaram de suas cadeiras e saíram à francesa do plenário.


De três possiblidades de voto (Sim, Não e Abstenção), os ilustres edis preferiram se ausentar quando o placar marcava 14 x 8.



Bônus-Track 2

Diz-se nos corredores da Câmara que os escorregadios edis abdicaram de suas obrigações parlamentares depois de garantida maioria absoluta (14) que assegurou a vitória inconteste dos desenvolvimentistas demolidores de patrimônio histórico, sem se comprometerem com um ou outro lado.


Bônus-Track 3

E por falar em Zé Luiz...


Ontem correu uma notícia - inclusive publicada no Daki - que o ex-prefeito procurou vereadores do seu partido (Cidadania), além de outros que mantêm boas relações na Câmara, para votarem contra o destombamento do Tamoio. Não deu certo.


Todos ou votaram a favor ou não quiseram se comprometer dando o seu voto.


Das duas uma: ou foi notícia plantada, ou o ex-prefeito está oficialmente morto na política gonçalense sepultado para sempre no caixão da irrelevância.


Bônus Track 4

Não é a primeira vez que a força da grana e interesses poderosos atuam contra São Gonçalo e os gonçalenses.


Em 2013, o 3º Batalhão de Infantaria (BI) em Venda da Cruz, conhecido apenas por 3º BI, também foi destombado pelos vereadores para a construção de prédios que abrigariam os moradores remanescentes da tragédia do Morro do Bumba, em Niterói, ocorrida em 2010.


O tombamento de todo conjunto arquitetônico da área do 3º BI havia sido realizado apenas dois anos antes, em 2011, a partir de mensagem do governo Aparecida Panisset (2005-2012).


Lá, como agora, houve chiadeira, mas não o suficiente para barrar o desprezo pela história e memória de São Gonçalo.


Abaixo, o documento da vergonha Nº 0028/2022.




 

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Helcio Albano é jornalista e editor-chefe do Jornal Daki.




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