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Cláudia Márcia - por Paulinho Freitas

SÃO GONÇALO DE AFETOS

Imagem/Arte: Jornal Daki - Reprodução Internet
Imagem/Arte: Jornal Daki - Reprodução Internet

Ela nasceu Cláudia Márcia, lá no Morro da Salga, ali no Gradim. Todas as projeções de vida, possíveis e imaginárias apontavam para mais um futuro natural de negra, favelada, submissa e sem nenhuma chance de futuro.


Cláudia Márcia é fruto do grande amor entre Zé Luiz e Maria Thereza, que juntos juraram que Cláudia Márcia não teria o mesmo destino das meninas de comunidades mais pobres onde engravidam aos quatorze anos, aos dezoito já tem três ou quatro filhos, aos vinte e cinco anos já aparentam quarenta, aos trinta são avós e aos quarenta não tem nenhuma esperança de melhora.


Cláudia Márcia estudou em colégio particular e aos dezoito anos já havia concluído o ensino médio e estava pronta para prestar vestibular quando um convite para atuar em shows na Turquia a seduziu e ela abandonou aquele futuro planejado com tanta antecedência e carinho por seus pais, por um futuro que seria escrito por ela própria e seria muito mais divertido e feliz.


Seis meses depois, Cláudia Márcia desembarca no aeroporto Tom Jobim com muitos presentes na bagagem, alguns dólares e com previsão de voltar a fazer os shows seis meses depois. A alegria durou até o final do mês quando a menstruação não desceu e ela se viu grávida de um Turco casado que não iria querer ver nem ela e nem a criança por ter uma posição social e religiosa impoluta e ser um “exemplo” a ser seguido, nem aos telefonemas atendeu.


Cláudia Márcia se viu só, grávida e tendo que correr atrás do prejuízo sozinha. Toda dificuldade, sofrimento e a lição que a vida lhe deu não foram suficientes para impedir que ela, após a filha nascer viajasse para a Turquia e voltasse aos shows.


Deixou no Brasil, com os avós, sua filha Glória, uma linda menina que engravidou aos quatorze, aos dezoito já tinha três filhos, aos vinte e cinco parecia que tinha quarenta, aos trinta já era avó e aos quarenta não tinha mais nenhum sonho habitando seus grandes olhos negros.


Quanto a Cláudia Márcia, até hoje, nem uma notícia.


Temos várias histórias de superação de nosso sofrido povo, mas na maioria das vezes o final é o mesmo. Quando será o dia de nossa sorte? Como inverter esta situação?

 

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Paulinho Freitas é sambista, compositor e escritor.






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