Os 10 anos do Junho de 2013 em São Gonçalo
Por Helcio Albano
Este mês faz 10 anos das grandes manifestações populares de junho de 2013. Muita coisa já foi escrita em textos acadêmicos e em artigos de jornais que, neste domingo (11), vêm aos montes analisar esse terremoto social, político e cultural que transformou pra sempre o Brasil. Mas não quero me ater ao que já é tratado como fato histórico no país, mas sim ao que agora me interessa enquanto recorte: São Gonçalo.
Os protestos de junho tiveram inicialmente motivação jovem, urbana e de esquerda auto-organizada para além dos partidos e dos movimentos sociais tradicionais naquele momento cooptados pela estrutura do governo Dilma. Isso já devia estar pacificado.
Vivíamos enorme euforia com crescimento econômico robusto em todo o país, e especialmente no Rio de Janeiro, estado que recebia o maior volume de investimentos relativos do mundo, perdendo apenas essa condição para províncias da China.
A cidade do Rio deu azo a gigantescas intervenções de infraestrutura para receber a Copa e Olimpíadas. Comitês de observação, montados pela sociedade civil a partir das universidades, entraram firmes no debate público, criando massa crítica numa juventude empoderada e ansiosa em participar dos rumos do país.
E um dos motes de discussão era qualidade dos serviços públicos, principalmente dos transportes. E daí vem os 20 centavos como símbolo dos protestos da multidão nas ruas.
Em São Gonçalo, o então prefeito da época, Neilton Mulim, deu um azar danado. Ele fora eleito exatamente sob a bandeira do transporte a R$ 1,50 que não conseguira cumprir naquele junho [e nem nunca], apenas 6 meses depois de tomar posse...
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A rapaziada pilhada com os acontecimentos que inundavam o noticiário das TVs e das já consolidadas redes sociais e que já emulava em escolas e universidades das terras d'Além o mesmo modelo de organização dos comitês, tomaram como nunca dantes a Cel. Moreira Cesar e a Feliciano Sodré contra o governo duplamente encrencado:
1. por ter autorizado o aumento da tarifa em janeiro daquele ano e;
2. por não ter cumprido a promessa da passagem a R$ 1,50.
Bônus
Na noite de 19 de junho, 5 mil pessoas se concentraram em frente à Prefeitura cobrando o prefeito o que jamais poderia dar: sua promessa de campanha.
Enquanto outros prefeitos tinham pra si como recuo os tais 20 centavos, Mulim não tinha nada para aplacar a fúria do monstro que o engoliu. O governo Mulim acabara ali, como em nível estadual teria fim o de Sergio Cabral. Junho de 13 foi fatal para os dois.
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Gonça City carregava o mesmo sentimento antissistema, antipartidos e cartazes com frases como "O gigante acordou" e coisas do tipo meio difusas que dariam no que deu: Lava Jato, Bozo e Centrão ainda mais poderoso.
No dia 29/6/2013, Paulo Henrique Lima, que organizara um protesto na Prefeitura, lamentou à extinta Folha SG manifestação esvaziada por causa de "boatos de que a manifestação teria teor político". Era esse o nível.
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Mas encerro mesmo com o comentário de dona Ivone Nazaré, 76 anos, presente na manifestação monstro do dia 19 de Junho de 2013 à mesma Folha SG:
"Não sou usuária, mas a vergonha é que a passagem está mais cara que a maconha. Um absurdo".
Pois é, dona Ivone, nada mudou...
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Helcio Albano é jornalista e editor-chefe do Jornal Daki.