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Cordel em luto: morre o poeta Gonçalo Ferreira

O velório e a cremação do corpo do fundador da Academia Brasileira de Literatura de Cordel (ABLC) serão realizados neste domingo (23) no cemitério do Caju

Gonçalo Ferreira/Foto: Reprodução Facebook
Gonçalo Ferreira/Foto: Reprodução Facebook

Faleceu nesta sexta 21/10/2022, no Rio de Janeiro, o poeta e fundador da Academia Brasileira de Literatura de Cordel (ABLC), Gonçalo Ferreira da Silva, aos 85 anos.


Gonçalo Ferreira nasceu na cidade de Ipu, no Ceará, em 20 de dezembro de 1937. Autor de extensa obra em Literatura de Cordel, com mais de 300 opúsculos e dezenas de livros para todas as idades, manifestada em riquíssima temática e iluminada por um vocabulário precioso e abundante.


Gonçalo excursionou por importantes áreas do conhecimento humano, proferindo palestras e conferências, transmitindo uma cultura canalizada ao longo de mais de meio século no universo das letras. Muitos dos seus trabalhos já foram traduzidos para vários idiomas como o francês, espanhol, inglês, alemão, japonês, italiano e hebraico.


O poeta, conhecido mundialmente e aclamado pela classe literária e por professores da língua portuguesa Brasil afora, exerce grande influência em escritores e poetas de cordel, da nova e da velha geração de São Gonçalo (RJ), cidade que tem o seu nome:



"Conhecer o mestre Gonçalo foi uma das experiências mais incríveis que já tive. Um ser humano maravilhoso, de voz mansa e sábia, carinhoso e capaz de cativar a pessoa logo na primeira conversa.


Gonçalo Ferreira é o nome que mais aparece na minha tese de doutorado. Seu fazer artístico é único, porque intenso e frequente. Como se diz na gíria dos poetas, quando se quer falar de competência na métrica de versificação: "nunca vi o professor Gonçalo quebrar um pé". É o centro teórico da minha pesquisa universitária. Competente ao extremo, no sentido literatura, um ícone, não só por ter fundado a ABLC, mas também pelo apoio que deu aos cordelistas e pesquisadores do cordel.


Eu hoje estou de luto pelo falecimento do mestre, como membro acadêmico pesquisador que sou e amante da conversa com ele senti o baque da partida. No entanto, o que me fica na memória é coisa boa, é a voz daquele querido cearense me dizendo a apertar minha mão: 'Aperte aqui, Erick, essas falanges da experiência'.


Decerto mais a diante baterei no peito e proclamarei em alto tom orgulhoso e direi: eu conheci pessoalmente o Gonçalo e com ele aprendi", disse o gonçalense Erick Bernardes, 45 anos, professor e escritor que também atua na ABLC como pesquisador convidado.


Outros dois poetas de cordel, conterrâneos de Gonçalo, mas radicados na cidade, também lamentaram a partida do fundador da ABLC:


"Gonçalo, é de suma importância para cultura do nosso país, principalmente para a literatura de cordel. Na minha visão, o cordel divide-se em antes e depois de Gonçalo.


A Morte do Mestre deixa o mundo cordeliano mais pobre e a sua ausência, abre uma imensurável lacuna neste seguimento. Para os que tiveram a sorte e o privilégio de conviver de perto com o poeta e com a pessoa, ser humano que era, não haverá, jamais um substituto. Gonçalo nos fará muita falta, com seus ensinamentos, sua fala precisa, e seu modo respeitoso e carinhoso de nos abordar", lamentou Zé Salvador, 67 anos, radicado em São Gonçalo há mais de 40 anos fundador Academia Gonçalense de Literatura de Cordel (AGLC), um dos discípulos diretos do grande mestre.



O jovem poeta, Ezequiel Alcântara, 22 anos, considerado um dos maiores talentos da nova safra cordelista no Brasil, disse que reencontrar Gonçalo Ferreira no Rio de Janeiro e conviver com ele "foi uma dádiva enriquecedora":


"Meu ser esmorece de tristeza com a partida do nosso amado mestre Gonçalo Ferreira da Silva. Conhecê-lo pessoalmente, lá no início de minha trajetória literária em 2014, me inspirou, e continuou sempre a inspirar, a produção e o meu amor pela Literatura de Cordel.


Poder reencontrá-lo aqui no RJ e conviver com ele foi uma dádiva enriquecedora. Estar com ele nas plenárias da querida ABLC, nas minhas visitas enobrecedoras à sede cordeliana, nas nossas conversas de exímio saber, no nosso prosear ao tomar o café delicioso de Madrinha Mena, no toque do violão com nossas cantigas, no almoço delicioso com bons poemas de acompanhamento e nos nossos sorrisos verdadeiros... a honra, o orgulho, a gratidão são infinitas e inenarráveis... e me faltam palavras para expressar o que sinto com a partida dele. Meu olhar cordeliano torna-se cinzento, opaco, entristecido...


Gonçalo Ferreira é um Imortal que fluirá através do tempo, do universo, de nossos corações, compondo poemas com o luzir das estrelas e transbordando infinitamente em nossos sentires a essência fundamental do Cosmos: a poesia. Obrigado por tudo, meu amado mestre, Gonçalo Ferreira da Silva!", escreveu Alcântara em seu Facebook.


Salvador e Alcântara são os maiores divulgadores da literatura de cordel em São Gonçalo e no estado do Rio.

Por volta de 1950 Gonçalo Ferreira chega no Rio de Janeiro, onde residiu desde os 13 anos. Estudou no Liceu Literário Português onde cursou o 1º e o 2º graus. Formou-se em Letras pela PUC/RJ.(1973) Foi funcionário da rádio MEC, redator do jornal a voz do Nordeste e da revista Abnorte -Sul. No total foram 33 anos de MEC.


Publicou “Um Resto de Razão” em 1966 seu primeiro livro. (Edições de Ouro) No mesmo ano publicou seu primeiro cordel “Punhos Rígidos”. Em1988 fundou a ABLC Academia Brasileira de Literatura de Cordel. Conheceu Madrinha Mena em 1972 que, casados, trabalharam arduamente em prol do cordel e da fundação da Academia e divulgação de tão nobre literatura.


Em julho deste ano a AGLC promoveu o I Concurso de Literatura e Cordel de São Gonçalo, premiando os vencedores com o Troféu Gonçalo Ferreira da Silva.


Gonçalo Ferreira da Silva era filho de Osório Ferreira da Silva e de Francisca Gomes da Silva, (dona Mocinha).


O velório e a cremação do corpo será realizado neste domingo (23) no cemitério do Caju, Rio de Janeiro. A cremação está marcada para às 16 horas.

 

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