For export
Poderia ser mais uma gigantesca safra da maldita soja transgênica, mas não é. Também não é o nosso minério de ferro. As granadas de gás lacrimogêneo fabricadas aos milhares em Nova Iguaçu? Não, não. Tampouco será feijoada congelada. Em tempos de crise e ebulição popular mundo afora, o principal artigo de exportação do Brasil é... O nosso modelo de gestão social.
De acordo com Sara Granemann, professora da Escola de Serviço Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro - tal qual é prática do Estado brasileiro, desde o pós-constituinte de 1988 - os governos de países como Grécia, Portugal, Espanha e Itália reagiram à crise financeira que se arrasta de 2008 pra cá, mediante o que se convencionou chamar de políticas de austeridade. Elas consistem basicamente em precarizar os direitos dos trabalhadores e sacrificar os serviços sociais (saúde, educação, etc.), deslocando o fundo público em benefício do grande capital, em especial, dos bancos. O resultado disso é o comprometimento das finanças nacionais e do tecido social, em última instância.
E para conter as revoltas populares, os gringos demonstram afinidade com um clássico tupiniquim: tome tiro, porrada e bomba! Trinta anos atrás, demos fim a uma ditadura cruel sem, entretanto, remodelarmos nosso aparato policial. Hoje, com tropas das mais violentas do mundo, servimos de exemplo. O que se agrava quando a sociedade entende essa barbárie como algo banal.
A radicalização da terceirização do trabalho, a redução da maioridade penal e a revisão de direitos trabalhistas e previdenciários, apostas do congresso e do poder executivo federal em exercício, são apenas as “commodities” mais recentemente produzidas. A política de direitos sociais mínimos que vem sendo intensificada desde os anos 1990, o desprezo pela dignidade humana somado a uma repressão policial brutal e a poderosíssima indústria de dívida pública que desenvolvemos aqui são, atualmente, os mais consagrados itens num processo que, em certa medida, corresponderia a uma espécie de brasileirização do (1º) mundo. Mas isso é coisa que se exporte?
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