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Oitis: a poesia sensorial de Carlos Galeno



Sabe daqueles livros que nos fazem fechar os olhos, sentir aromas e sabores, por meio da remissão a certos sentidos figurados? Pois é, assim é o livro Oitis, do poeta Carlos Galeno, há tempos radicado aqui em São Gonçalo.

Dono de uma poesia acima de tudo sensorial, o livro evoca lembranças de mundos possíveis, que remetem os leitores a cheiros de comidas, de flores e até da maresia proveniente das regiões litorâneas supostamente vivenciadas por um eu-lírico de matiz memorialista.


Oitis é o terceiro livro da carreira do poeta e sociólogo Carlos Galeno. Nascido em Parnaíba, litoral do Piauí, o escritor já escreveu Maresias (1985), Lamparina (2007) e, desta vez, lança Oitis (2019) pelo selo da Editora Autografia. É declamador assíduo do Diário da Poesia e, junto ao grupo, costuma visitar as escolas de São Gonçalo e adjacências levando sua arte aos alunos.

Quem lê a obra desse poeta piauiense toma contato com versos concisos, porém, cujas nuances estabelecem “viagens (que) irrompem as fronteiras de si mesmo” e convidam o leitor a desvendar seus enigmas por meio da “incessante busca pelo tosão de ouro” que se esconde na alma de cada poeta, conforme a própria orelha do livro evidencia. Vale ressaltar, os poemas seguem uma arquitetura textual composta de 75 textos compactos, e afinadíssimos entre si, tais como os vocábulos do poema “Éden”: “a maçã” / “a serpente” / ”a mulher”/ “harmonia”. (p. 32). Como se vê, na interação entre os signos ligados aos seus respectivos títulos, dentre os quais se apresentam majoritariamente em versos brancos, mas não livres, os versos metrificados vistos na obra são uma necessidade à técnica de valorização da forma — e por isso se revelam tão peculiares na poesia de Galeno.

Nesse sentido, pode-se afirmar que Carlos Galeno traz a público parte de um universo enigmático e sobretudo sinestésico, por meio de uma obra com nome de fruto adocicado e de textura áspera, cuja referência (embora nativa) se apresenta pouquíssimo conhecida pelo entorno fluminense — e essas representações, do pouco ou nada conhecido, dizem muito da proposta estética do artista. Exemplo dessa mescla de memória e sensações pode ser acompanhado no poema “breve (i) dade”, com base em uma cronologia biográfica (aos três, sete, dezoito, vinte, trinta, quarenta e o vislumbre dos cinquenta anos), vemos um eu-lírico erigir um edifício textual muitas das vezes também narrativo. Isto se explica por dois motivos principais: a) o passo a passo de um caminhar na vida pregressa, quando ainda “engatinhava em direção do sol”, dessa voz capaz de se revelar o próprio percurso estético, pois se vale do “verso branco”, ou seja, sem rimas (p.38), ao modo inequívoco de aprendizagem com a poesia de Fernando Pessoa; b) a obsessão pela “natureza exuberante” e que conduz esse eu-lírico à “verdadeira beleza das coisas” (p. 39).

Portanto, esteja o leitor convidado a provar dessa excelente obra literária. Leia seus belos poemas, cheire-os, sinta o sabor das palavras postas à mesa, verso a verso, tudo isso especialmente feito para você. Boa leitura!

GALENO, Carlos. Oitis. Rio de Janeiro: Autografia, 2019.


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