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Cada vida no Salgueiro importa - por Mário Lima Jr.


Foto: Reprodução Internet
Foto: Reprodução Internet

É uma tragédia terrível a morte do sargento Leandro Rumbelsperger da Silva, de 38 anos, após ser baleado no Complexo do Salgueiro. Foi arrancado do convívio com a mulher e dois filhos. Quando um agente das forças de segurança sofre um ataque, com a mesma gravidade ele atinge a sociedade fluminense e o Estado do Rio de Janeiro, que falha tanto na proteção do seus membros quanto no desenvolvimento de segurança pública.


Por um motivo simples, são igualmente trágicas as mortes de Kauã Brenner, que tinha apenas 17 anos, David Antunes (23), Igor Coutinho (24), Douglas Medeiros (27), Jhonata Sodré (28), Rafael Menezes (28), Carlos Almeida (31), Ítalo Rossi (33) e Élio Araújo (52 anos). São vidas interrompidas pela violência, independentemente de quem tenha atacado primeiro, e o valor da vida humana é único. Palavras constrangedoras em um país onde 81% da população se declara cristã (G1) e promete tratar o próximo com justiça baseada no amor.



Os mortos não são as únicas vítimas de uma polícia que invade comunidades caçando pessoas para o abate. O trauma aumenta dentro das casas antes, durante e após cada operação policial onde não há inteligência nem estratégia, na opinião de especialistas em segurança pública. Como lembrou o escritor Anderson França, o demônio em pessoa, carregando a bandeira do Estado do Rio de Janeiro, caminha nas ruas com fuzil na mão e invade lares espancando gente inocente. As crianças veem os corpos no chão e se perguntam se amanhã será o delas naquele lugar. O transporte público parou de funcionar no Salgueiro por dias, os jovens foram impedidos de fazer o ENEM (mas conquistaram o direito de prestar o exame em outra data após grande mobilização social).



A dor não se trata de efeito colateral inerente à guerra. O domínio de facções criminosas e a ascensão da violência são projetos que rendem dinheiro e votos. Ninguém está disposto a entregar sua família para apanhar de bandidos, fardados e sem farda, se trancar dentro de casa tremendo a cada tiro ouvido e com projéteis se chocando contra as paredes, e recolher corpos cobertos de lama e sangue, inclusive do filho degolado. Quando o morador da favela levanta uma placa em protesto pedindo paz, ele está dizendo que não quer ser a única vítima dessa insanidade.



Há formas dignas de combater o tráfico de drogas e de armas e promover segurança para todos, ao invés de favorecer os condomínios fechados com vigilância privada. Elas começam pelo respeito por cada vida na favela. Pela valorização da sua luta através dos projetos sociais. E pela preservação do bem-estar físico e mental de crianças e adolescentes que representam nossa vontade de viver no futuro.


Esse artigo surgiu primeiro em marilolimajr.com.

Mário Lima Jr. é escritor.



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