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No bairro do Rocha edifiquei a minha igreja, por Erick Bernardes


Pracinha do Rocha/Foto: Erick Bernardes
Pracinha do Rocha/Foto: Erick Bernardes

Se existe em São Gonçalo um lugar onde a explicação dá rasteira na razão é de fato o bairro chamado Rocha. Ora, o substantivo próprio e sinônimo de pedra no mínimo nos sugere rigidez, firmeza de espírito, ou até mesmo sobrenome de figurão importante: o Rocha. Mas não, de modo algum há essa lógica no registro da prefeitura. O que houve de verdade foi vontade de enriquecer. Exato, ambição, exagero monetário, manobras urbanas e territoriais.

Quem nunca conheceu por aí algum senhor chamado Rocha da Silva? Ou mesmo algum poderoso Souza Rocha? Sinto muito em lhe decepcionar, caro leitor, mas não tem sentido algum nisso; nada a ver com nada. O bairro Rocha surgiu dos interesses de um certo “vereador loteador”, conforme era chamado por seus desafetos o poderoso José Lourenço de Azevedo.


Sabe-se que esse senhor fatiou como manteiga o que outrora denominavam Jardim Vista Alegre. Pois é, época de enriquecimentos enormes, um tipo de espelho do presente. Mas é preciso explicar, porque não era esse Vista Alegre o mesmo daquele para os lados próximos de Monjolos e Largo da Ideia. Claro que não! Trata-se de localidade adversa, logradouro de outra parte do município, bem do ladinho do Galo Branco e do Lindo Parque. Região de gente bacana, de quantas e tantas feiras livres estive a gastar. Foi no passado um loteamento de nome bonito.


Na ocasião, o jornal O São Gonçalo anunciou em manchete: “JARDIM VISTA ALEGRE DENOMINADO BAIRRO ROCHA - Magníficos lotes de terrenos à venda a prazo e à prestação: clima de verdadeiro sanatório. O Senhor ou Senhora ainda não teve margem de adquirir um lote de terra, para garantir seu futuro? Então vá hoje mesmo, tomar posse de um belo e valioso lote no Jardim Vista Alegre, bairro denominado Rocha, junto à Estrada do Colubandê, onde se comunica com bondes e ônibus de Alcântara, S. José, Sta. Izabel, Rio Bonito e outros todos ou as barcas, sem entrada, a partir de Cr$12.000,00 com prestações ao alcance de todos, com luz particular no local, água nascente em todos os pontos, parada de trens da E.F.C.B, antiga Maricá, linha de ônibus Rocha, que prosseguirá até o local e ainda a inesquecível linha de ônibus com itinerário Mutondo - Colubandê – Tribobó” (FREIRE, 2002).


Bem, necessário reconhecer, o bairro Rocha frutificou de uma antiga artimanha de conferir beleza ao título do loteamento estranho. Pense comigo, se anunciar “jardim” já é capaz de fazer o futuro comprador do lote sorrir, imagine com uma faixa escrita “Residencial Jardim Vista Alegre” bem no meio da rua? Magnífica sugestão de ficção, confusões de nome.

Em resumo, temos aí excelente exemplo de malandragem imobiliária, estratégia de produção afoita por grana, histórias de nossa fundação. Contudo, amo este lugar, eu e minha família inteira vivemos aqui e bem.


Fonte: RENATO COELHO BARBOSA DE LUNA FREIRE (PODER E SOCIEDADE NA [TRANS] FORMAÇÃO DA CIDADE) História dos loteamentos no município de São Gonçalo na década de 1950. UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, FFP/2002

Erick Bernardes é escritor e professor mestre em Estudos Literários.


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