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Brejal, por Erick Bernardes


Foto: Pixabay
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Você também já deve ter passado por isso.


— Oi, professor, tudo bem? Lembra de mim, né?


A mente faz piruetas para conseguir lembrar e nada. Claro que não dá pra recordar, época de pandemias, as máscaras escondem o rosto há pelo menos um ano e meio. Impossível saber de quem se trata. Devo ser sincero e confessar memória falha ou fingir saber quem é?


— Estou quase lembrando, me ajuda?



Tomo a terceira via, não nego que não sei quem é nem afirmo o contrário. A palavra "quase" tem efeito mágico. "Quase sei". A pessoa conta quem é, refresca a minha memória e ainda narra uma boa história da qual nem eu lembrava mais.


— Professor, lembra do colégio lá em Vista Alegre onde você foi palestrar? Eu estava lá. Conversamos. Contei sobre onde nasci e fui criado e você gostou. Disse que iria escrever minha história um dia. Eu moro no Brejal. Há informações bem legais sobre a comunidade que lhe interessaram.


— Lembrei, agora sim.


Bem, caro leitor. O lugar chamado Brejal é um dos espaços mais carentes de tudo em São Gonçalo. O Vaguinho nasceu e mora lá, me explicou que a localidade fica entre o Jardim Bom Retiro e Vista Alegre, bem próximo de Guaxindiba.


Segundo história narrada pelo avô do garoto, o Brejal já foi um dos maiores fornecedores de carne de rã da família imperial. Imagine, algum empregado de Dom Pedro II vindo aos brejos de SG, especialmente para comprar dos moradores as rãs robustas que iriam configurar as sopas da alta sociedade brasileira. Sopa de rã faz bem, cura doenças, proteína da boa. Os antigos endinheirados já tinham ciência disso. Além do mais, é uma delícia esse tipo de alimento primo do sapo.



Por que você acha que um lugar no meio do mato chamado Brejal tem tanto morador assim? Estava clara a oportunidade surgida da atividade de captura e venda de rãs no passado. Dava uma graninha boa. Se a família imperial tivesse visita então, ah, lá ia o empregado da Coroa adquirir alguns quilinhos da carne preciosa no intuito de impressionar os convidados. Mas hoje o caso é outro, pouca atenção do governo e gente desempregada vivendo na região. E tem o fato de a captura do anfíbio selvagem constituir crime atualmente. Só as de criadouros autorizados são permitidas.


Pois bem, história incrível, Vaguinho jura veracidade. Acreditando ou não, o que importa é que o Brejal precisa de atenção dos governantes. A precariedade é enorme, desemprego e subsistência pra todo lado. Não há mais rãs por lá e agonizam os sonhos dos moradores dessa região de São Gonçalo.

Erick Bernardes é escritor e professor mestre em Estudos Literários.




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