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Uma fábrica de dinamites em SG - por Erick Bernardes


Foto: Pixabay
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Na crônica da semana passada falamos sobre a Fazenda Monte Raso e a prisão de seu proprietário Domingos José, especialmente por ele ter protegido dezenas de judeus alemães nas suas terras. Mas o que foi feito da fazenda após o ocorrido? Qual destino foi dado àquele pedaço de terra? É desse acontecimento que trata a história de hoje. Vamos ao começo:


Durante muito tempo mineradoras e fábricas de explosivos francesas cresceram economicamente por causa das indústrias de extração de carvão e zinco no Norte da Argélia, país situado no continente africano. Uma dessas fábricas de explosivos era a Indústria Cheedck, cujo destino certo da produção inflamável avolumou tanto que decidiram expandir seus negócios no Honduras Britânico (atual Belize, país da América Central) e no Brasil — e aqui a fábrica se instalou mais especificamente na antiga Fazenda Monte Raso, ex-propriedade do senhor Domingos José, espaço onde hoje se localiza o bairro das Palmeiras, no município de São Gonçalo.



O jovem recém-chegado ao Brasil Jean-Pierre Balmant ficou encarregado de dar conta da construção da fábrica e cuidar das instalações fabris em São Gonçalo. Os galpões constituíam espaços enormes de depósito, setor de preparo, alocação de pavios, embalagens e expedição — e eles obviamente usaram a Baía de Guanabara como via de distribuição da produção de pólvora. De acordo com Maria Nelma C. Braga, na localidade atualmente nomeada de Palmeiras, antiga Fazenda Monte Raso, havia "18 pavilhões, onde foi instalada a Fábrica Cheedck, para fabricar explosivos usados em pedreiras, para os Estados do Rio, São Paulo, Minas Gerais e Espírito Santo" (2006, p.111).


Foram quase dez anos de alta produção de dinamites com fins de atender às mineradoras de Malacacheta da região de Maricá, oferecer insumos também às pedreiras de SG, Niterói, e inúmeros lugares fora do Estado do Rio. Há indícios de que a produção de dinamite abasteceu inclusive parte dos países hispanofalantes da América do Sul. Isso se sabe por causa das muitas viagens de negócios que o senhor Balmant fizera ao exterior e deixara registrado em documentos hoje conservados pelos seus descendentes.



Além disso, a ilha de Braço Forte (localizada na Baía de Guanabara), pertencente ao Ministério do Exército, teve o seu paiol destruído por uma enorme explosão e, daí em diante, misteriosamente, o próprio governo proibiu a produção de explosivos na Fábrica Cheedck, como se houvesse alguma relação. O que a indústria francesa teria a ver com o desastre na Ilha de Braço Forte? Por qual motivo nós gonçalenses não sabemos até hoje notícias mais claras sobre isso?



Bem, sou da opinião que esse é um mistério que vai além dos limites nacionais. Mesmo porque a fábrica Cheedck da América Central (em Belize, antigo Honduras Britânico) encerrou suas atividades logo em seguida. Viu como é? Mistério. Um prato cheio para pesquisadores ou mesmo curiosos como eu.


Trecho da citação:

BRAGA, Maria Nelma Carvalho. O município de São Gonçalo e sua história. Niterói, RJ: Nitpress, 2006.

Erick Bernardes é escritor e professor mestre em Estudos Literários.





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