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A lei do mais forte

Por Sirley Tereza dos Reis

Reprodução Internet
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Caro leitor, você acompanhou em nossa coluna, na semana passada, o debate em torno do Homeschooling: a volta da Casa Grande, no texto de Rafael Dias e Fabiana Mesquita. Vimos que a família recolhe-se em uma cápsula com o intuito de “proteger” a criança do contato com o mundo e suas contradições. Contudo, o enclausuramento “voluntário” de crianças e adolescentes reforça o domínio do adulto, escolarizado, com dinheiro para educar privadamente os seus, afastando-os da concepção de sociedade que educa-se em comunhão, em cooperação.


Esta volta à Casa Grande também está impressa na cena de execução de Genivaldo de Jesus Santos no Sergipe pelo poder repressivo do Estado. O assassinato foi filmado por transeuntes que registraram a luta de um negro, pobre e periférico. Alguma semelhança com a imagem do sinhozinho, lendo um livro sob o olhar atento de seu professor particular, enquanto no pátio o capataz acoitava negros acorrentados pelos pés e mãos, a assistência, igualmente acorrentada, era obrigada a ver para ter como exemplo?



Por que somos como somos? [1]


O processo civilizatório brasileiro é marcado por mitos a serem enfrentados para superação da barbárie na qual vivemos. Quais seriam esses mitos? O patriarcalismo e o patrimonialismo, que geram ambientes onde a violência é silenciada, perpetuada.


No patriarcalismo a autoridade é centralizada no chefe, cuja razão não se encontra na lei ou na ciência, mas na letalidade de suas armas, no seu poder econômico. Para dirigir a vida das pessoas (coisificadas), o patriarca loteia o Estado entre seus amigos e parentela, blindando-se contra a reação daqueles que sofrem seus abusos.


Logo, a relação entre Estado e sociedade se baseia em falsas concepções sobre a organização social e política, tais como: a ideia equivocada de “uma “democracia racial” (Gilberto Freyre) e as contradições presentes na “cordialidade” (Buarque de Holanda) enquanto marca do homem brasileiro, guiado pelo coração, capaz de gentilezas e atrocidades.


Os órgãos oficiais de estatística evidenciam que, apesar do progresso no campo legislativo, no cotidiano vigoram o preconceito racial, a desigualdade social e a violência nas relações. O chicote continua nas mãos do feitor. Os extermínios promovidos nas incursões policiais nas favelas no Rio de Janeiro, as notícias diárias sobre crianças atingidas por balas de fuzil, dentro de suas casas ou no trajeto para escola em zonas periféricas da cidade e o aumento da violência doméstica demonstram a urgência da sociedade brasileira ultrapassar a barreira da lei do mais forte.


Colaboração e revisão: Aldaléa Figueiredo dos Santos.


***

[1]. Pergunta que Buarque de Holanda se faz ao analisar o mito da cordialidade. Holanda, Raízes do Brasil.1995


Link para leitores que queiram aprofundar: https://drive.google.com/file/d/1txlWcqkXOIVuR7g-pcrDfNTLgvd4Rl9/view?usp=drivesdk – Mitos Sobre a Formação Social Brasileira – A LEI do mais Forte

 

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Sirley Tereza dos Reis é Psicóloga, Assistente Social, mestranda em Educação- UFF, Secretária Escolar - SEE e Supervisora de Estágio UNIP membra do Coletivo ELA – Educação Liberdade para Aprender e colaboradora da Coluna "Daki da Educação", publicada às sextas.



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