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Ecos de um duelo no Porto da Pedra - por Erick Bernardes


A Fonte da foto é página São Gonçalo Antigo e Muito mais.
A Fonte da foto é página São Gonçalo Antigo e Muito mais.

Os dois espadachins Gino e Attilio se estudavam mutuamente, giravam de vagar como se fossem tigres prontos a se lançarem um sobre o outro. As armas eram os clássicos e nobres sabres de metal tratado, a plateia era composta por figurões de alta sociedade. Gente cheia da grana, donos de jornais, empresários europeus do ramo de tecidos, coisa chique e perigosa. Lâminas afiadíssimas, impossível não haver tensão, perigoso. Teriam os dois lutadores se prestado ao desafio por causa de alguma donzela? Ou talvez o caso revelasse acerto de contas por causa de dívidas assumidas em jogos de azar? Não sei, confesso que não sei.


O certo é que ambos apresentavam movimentos elegantes e olhos vidrados sobre o oponente. Sim, pupilas raivosas, isso mesmo, o embate configurava um duelo quase do tipo capa e espada. Mas onde você acha que isso aconteceu? Não, caro leitor, não se trata das histórias dos Três Mosqueteiros ocorridas na França e inventadas pelo célebre Alexandre Dumas, claro que não. Pasme: esse duelo aconteceu em São Gonçalo, mais especificamente no bairro Porto da Pedra, na data exata de 7 de outubro de 1917.


O barulho de metal marcava o compasso da luta, os curiosos que assistiam estimulavam a dupla a se ferir até a morte.


_ Vamos, ataque, não dissestes que ia arrancar minhas tripas?


_ Sim, mas antes quero talhar essa sua cara de galanzinho frouxo.



A cada golpe um suspiro ou urro vindo dos espectadores ansiosos por verem algum sangue borbotar. O Porto da Pedra jamais esqueceria aquele duelo, de jeito nenhum o caso passaria sem ser notado, impossível não virar notícia. Mas, naquele dia, no meio do oitavo assalto, um deles foi ferido seriamente no braço direito e não teve mais como duelar. Sangue jorrou, porém ninguém precisou morrer, graças a Deus. Contudo, oito pessoas foram detidas. E assim os jornais anunciaram:

 

A JUSTIÇA VAI PUNIR OS DUELISTAS DO PORTO DA PEDRA


OS JORNALISTAS ITALIANOS SRS. ATTILIO TURCHI E O BARÃO GINO DORIA, QUE HÁ DIAS BATERAM-SE EM DUELO NO PORTO DA PEDRA, ESTÃO SENDO PROCESSADOS PELA JUSTIÇA FLUMINENSE, POR SER O DUELO CRIME PREVISTO NO NOSSO CÓDIGO PENAL. ALÉM DOS DOIS SUPRACITADOS, FORAM INTIMADOS A COMPARECER NA DELEGACIA O CAPITÃO ALBERTO BIACHI, NUNCIO DE GIORGIO, FRANCO CHETA E LORENZO MARINO, BEM COMO OS MÉDICOS DRS. HEITOR RIGO E RISPOLI.


(GAZETA DE NOTÍCIAS, 08/10/1917)


Viu aí, caro leitor? Crime é crime. Por mais que se comece com certo ar de pompa e romantismo, a infração fica registrada. O barão Gino Doria teve o braço cortado por outro italiano de nome Attilio. E o delegado pôs a italianada toda para depor. Incrível, né? Coisa de filme, mas aconteceu em solo gonçalense.


Nota do autor: Essa crônica só nos foi possível depois das informações oferecidas pelos administradores da página do Facebook São Gonçalo Antigo e Muito Mais, Wagner Luiz V. de Almeida e José Augusto S. da Costa (o Gutto), que atenderam ao meu pedido em plena sexta-feira e me enviaram os arquivos de jornais sobre o duelo.


Referências:

https://m.facebook.com/groups/saogoncaloantigoemuitomais/permalink/4407422019363907/?sfnsn=wiwspwa&ref=share

http://memoria.bn.br/DocReader/103730_04/42220

 

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