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Família Bonita é Família Feliz! - Por Paulinho Freitas

SÃO GONÇALO DE AFETOS

Reprodução Internet
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No alto do Morro dos Tabajaras, ali entre Portão do Rosa e Av. Central, morava Sadoc, a irmã Dilcéa, o Pai Sr. Corrêa , sua mãe Placides e a avó Antônia. Sadoc sempre foi reservado, poucos amigos e muito estudo, passava as tarde folheando livros, adorava poesia. Nos jornais de domingo lia o segundo caderno para ver a programação cultural e a parte de moda feminina onde além do vestuário apreciava as últimas tendências em cabelos e unhas. O pai fazia o que podia para “endireitar” o garoto, comprava-lhe pipas, bolas de gude, levava-o à quadra do colégio onde aos domingos o bairro inteiro participava dos campeonatos de futebol de salão e nada de Sadoc se alinhar com o gosto dos garotos de sua idade.



Ao contrário de Dilcéa que vivia brincando com suas bonecas e adorava cozinhar. Devorava fotonovelas e chorava quando o galã terminava o namoro com a personagem principal feminina. Era o orgulho da família. Em seu aniversário de 15 anos, foram convidados fuzileiros navais fardados, na hora da entrada na igreja para a missa em ação de graças eles cruzavam as espadas para a debutante passar. Na hora da valsa as escolhidas para formarem pares com eles sonhavam com aquela noite para o resto da vida. Um exemplo essa Dilcéa!



Sadoc cresceu, estudou moda e abriu um grande salão em Copacabana onde as madames entravam pela manhã e só saiam à noite com cabelos, unhas e vestuário perfeitos para qualquer ocasião. Era um sucesso! Sadoc começou a enricar e logo foi cobrado por ainda estar solteiro com quase trinta anos. Ele sempre dizia que ia esperar Dilcéa casar e depois se casaria. Mas Dilcéa era ainda uma criança, mal fizera dezenove anos e ainda não tinha terminado os estudos, ainda não era hora de casar.



Numa confraternização familiar de final de ano, aonde vieram parentes até de outro estado, Sadoc chegou na hora do almoço acompanhado de um rapaz. Todos à mesa ficaram mudos e quando Sadoc o apresentou com alegria:


_ Este é o Emevaldo, meu...



Nem acabou de falar e a avó desmaiou. O pai levantou chorando da mesa e se trancou no quarto para chorar sozinho a decepção anunciada desde a infância do menino. Do resto da família uns abaixavam a cabeça e gargalhavam baixinho, outros balançavam a cabeça negativamente e o resto olhava querendo ver as cinzas de um circo prestes a arder em chamas quando Sadoc completou:


_...é meu cunhado, irmão da Emília, minha futura esposa que ainda vai chegar com seus pais, ela se atrasou nas compras e eu vim na frente trazendo os presentes.


A avó se ajoelhou aos pés do quadro de N.Sra. da Conceição e agradeceu fervorosamente, o pai saiu do quarto como se nada tivesse acontecido para fazer as honras da casa. Quando Emília chegou com os pais, a festa ferveu de felicidade. Lá pelas tantas Sadoc pergunta:


_ E minha irmã?


A mãe responde:


_ A amiga dela chegou chorando, acho que brigou com o namorado e as duas estão conversando há horas lá no quarto.



O tempo passou, Sadoc e Emília se casaram. Sua irmã Dilcéa também se acertou com Emevaldo e foram todos morar juntos numa linda mansão no Grajaú. D. Antônia levou tempos pagando promessa a N.Sra. da Conceição. Sr. Corrêa morreu feliz, pois conseguiu criar, formar e casar os filhos sem ter nenhuma “vergonha” na família. A doce Placides ainda está aí curtindo a família. Só não entende o porquê de nas férias o Sadoc viaja com Emevaldo e a Dilcéa viaja com a Emília. Essa juventude...


***

Contribuição do editor com esse icônico poema de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987).


QUADRILHA


João amava Teresa que amava Raimundo

que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili

que não amava ninguém.

João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,

Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,

Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes

que não tinha entrado na história.

Paulinho Freitas é compositor, sambista e escritor.









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