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O pioneirismo de SG na energia elétrica - por Erick Bernardes


Foto: Pixabay
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Verdade ou mentira? Essa foi a pergunta que me fustigou o pensamento depois de ter lido um artigo sobre história das hidrelétricas pouco antes de ir dormir. O torpor típico da noite chuvosa terminou instantaneamente, como se tivesse recebido algum choque com a ideia que acabara de surgir.


Verdade ou mentira? Para ser sincero não se tratava de uma interrogação à toa, um dado muitíssimo relevante: por que ninguém falou até hoje sobre o fato de São Gonçalo ter se revelado um dos primeiros lugares do estado do Rio a produzir energia elétrica? Um tipo de voz imaginária e sussurrante fez questão de me recordar a lógica do bom pesquisador: “_ Desconfie, duvide das fontes fáceis de pesquisa”. Mas, meu Deus, o artigo é sério, a revista e o pesquisador têm qualidade investigativa, por qual motivo inventariam essa história?



Sei que São Gonçalo foi apelidado exageradamente de Manchester Fluminense devido às indústrias localizadas nos seus arredores em tempos remotos. E isso qualquer leitor de apostilas de concurso para prefeitura tem conhecimento. Contudo, cadê a energia para abastecer toda essa maquinaria industrial daquela época? Usina de Itaipu no Sul do Brasil, nem pensar, não era desse tempo buscar a luz noutro lugar. Tratava-se de negócios sérios em chão fluminense, impossível não se impressionar: é que os empresários Gaffrée e Guinle resolveram implementar uma usina hidrelétrica na antiga Fazenda onde hoje é o bairro Engenho Pequeno. Sim, exatamente, foi lá na Cachoeira da Tenda onde os empresários montaram a tal hidrelétrica que abasteceria Niterói e São Gonçalo.


Gaffrée e Guinle eram empresários de sucesso, grandes admiradores das tecnologias que surgiam, eles receberam concessões para explorar os recursos da queda d’água da Fazenda Engenho Pequeno que iluminariam a cidade, proveriam as fábricas e ainda fariam rodar os bondes que saudosamente por aqui circulavam. Esses dois visionários: “em 1903, fizeram uma sondagem entre os industriais cariocas, consultando-os se aceitariam substituir o vapor pela energia elétrica em suas fábricas” (HANSEN, 2010, p. 2-3). De acordo com Capel e Casals, a “cidade de SG, limítrofe a Niterói, fornecia, em 1912, em contrato com a municipalidade, energia elétrica para usos públicos e privados, em particular para diversos industriais de bens e consumo (alimentos e tecidos) e construção e reparo de embarcações (estaleiros)” (CAPEL; CASALS, 2013, p. 18).



E se alguém quiser saber o motivo de a imponente fazenda ter se extinguido e dado lugar a loteamentos residenciais, está aí a explicação: imagine se um engenho daquele porte sem água abundante sobreviveria. Sabe-se que, após o “fechamento da cachoeira para o restante da área desapropriada, em benefício da Companhia, ficou a fazenda sem água, tornando-se difícil tocar o restante da propriedade” (BRAGA, 2006, p. 118). Pois é, verdade ou mentira? Impossível dormir com isso.


Referências:

BRAGA, Maria Nelma Carvalho. O município de São Gonçalo e sua história. Niterói, RJ: Nitpress, 2006.

CAPEL, Horacio; CASALS, Vicente (orgs.). Capitalismo e história da eletrificação, 1989-1930. Barcelona: Ediciones del Serbal, 2013.

HANSEN, Cláudia R. S. Oliveira. Guinle&Cia e CBEE: os Guinle no setor de eletricidade brasileiro do século XX. XIV Encontro Regional da ANPUR-Rio: Memória e Patrimônio, 2010. Acesso em 17 jan 2022: http://www.encontro2010.rj.anpuh.org/resources/anais/8/1276735864_ARQUIVO_Anpuh20101.pdf

 

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Erick Bernardes é escritor e professor mestre em Estudos Literários.




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