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Pescados Coqueiro com a marca da vanguarda, por Erick Bernardes


Foto/Fonte: Folha de S. Paulo
Foto/Fonte: Folha de S. Paulo

Quem gosta de arte e simpatiza com São Gonçalo pode se certificar de um dado especial: a Indústria de Conserva de Peixes Coqueiro, localizada no Porto Velho, teve como um dos seus logotipos de embalagem a obra do artista concretista Alexandre Wollner. Pois é, a Coqueiro foi uma fábrica desde muito fundada na cidade e tem mesmo uma história bacana. Imagine, o desenho de arte de vanguarda estampado na lata de sardinha, elaborado em 1958, consistia em folhas de coqueiro e um pequeno círculo em sua configuração.


De acordo com Francesco Perrotta-Bosch para a Folha de São Paulo: o idealizador do símbolo da Coqueiro, Alexandre Wollner “encarnava o espírito da modernidade no seu sentido iluminista, buscando a razão a partir de um olhar atento aos fenômenos (...) é um personagem inescapável da história do design no Brasil, uma das primeiras iniciativas do ensino de desenho industrial do país” (2019).


Para os que não são tão antenados com questões estéticas, pode-se afirmar que o concretismo é um movimento artístico e também uma corrente literária de linguagem objetiva e proposta sobremaneira visual e experimental. A arte concreta teve início no século XX, influenciada pelo contexto marcadamente racional pautado pela aceleração tecnológica.


Mas o que marcou a memória do povo mesmo deriva daquela imagem de peixe em linha geométrica triangular acrescida de um losango esticado. Coisa mesmo de estética bacana. Um investimento danado desde a criação da fábrica. E por falar em criação, deve-se a fundação da Industria Coqueiro ao gaúcho José Emílio Tarragó, com a inauguração da Tarragó, Martinez e cia LTDA, em 2 de dezembro de 1937. Quando, curiosamente, consistia em uma indústria beneficiadora de tamarindo, fruto comestível de sabor agridoce, servido para culinária e fármacos de teor laxante.


Se acaso o leitor considera ousado destinarem à empresa o logotipo de um artista vanguardista, imagina saber que a produção mudou de beneficiadora de polpa de tamarindo para produtora de enlatados de sardinhas e atuns de uma hora para outra. Isso sim é guinada ou mudança de ramo e superousadia.


Em resumo, para quem curte história de SG e peixe em conserva, esta crônica tem sabor especial de nostalgia. Pois, a fábrica que era de tamarindo e virou beneficiadora de pescado passou de mão em mão após 1973, quando a Quaker Oats do Brasil adquiriu a indústria. Depois (2001) a Pepsico comprou a empresa e, por fim, fechou suas portas sob a administração fabril da Camil Alimentos. E não há uma família da região do Porto Velho que não teve algum parente trabalhado nos tempos áureos da Indústria de Conserva de Peixes Coqueiro.


Obs.: A Coqueiro foi comprada pela atacadista Assaí, seu terreno se encontra atualmente em obras para inauguração de um novo mercado.


Fontes:

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Erick Bernardes é escritor e professor mestre em Estudos Literários.





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