Pronomes, por Fábio Rodrigo
Seis integrantes de uma quadrilha se reuniram: EU, TU, ELE, NÓS, VÓS e ELES. O grupo tornou-se especialista em se passar por outro. A ação deles intrigava os agentes da delegacia de crimes. Mas a polícia até hoje nunca conseguiu capturar nenhum dos malfeitores.
Estavam todos reunidos no esconderijo para traçar novos planos criminosos. A primeira pessoa a falar foi o EU, o chefe e líder do grupo. Disse que será sempre o articulador de tudo e que assume toda a responsabilidade. Comentou sobre as conversas que teve com o TU, seu amigo mais íntimo e maior confidente. Planeja algo bastante ambicioso e que conta com a colaboração de todos. Como de sempre, acusou o ELES de tramarem algo para desmoralizá-lo. O ELE saiu em defesa do ELES. Os dois são sempre acusados de serem os detratores do grupo. Nunca aceitam de bom grado as normas advindas do EU. Falam que o EU só pensa em si próprio.
Quando o clima da conversa estava ficando pesado, o NÓS foi logo tomando as rédeas. Acalmou os ânimos de todos e pediu que deixassem a vaidade de lado. Todos concordaram com o NÓS. Até o VÓS se manifestou, apesar de ser visto como aquele que tem ideias muito retrógradas e antiquadas. Após os ânimos esfriarem, o EU pôs as cartas na mesa e falou de uma rede de contatos com pronomes de outras línguas e da experiência deles em crimes internacionais. Um plano de ação começou a ser traçado.
Todos ouviam o EU enquanto agentes cercavam o local. A operação policial chegou de surpresa e arrombou a porta do esconderijo do grupo. Vasculhou tudo em busca de cada um dos elementos. Parecia que desta vez os integrantes da quadrilha seriam capturados e presos. Segundo os agentes que estiveram no local, não havia pistas ou sinais que levassem aos integrantes da quadrilha. Mais uma vez, a polícia mostrou-se incapaz de capturá-los. O motivo: estavam ocultos.
Fábio Rodrigo Gomes da Costa é professor e mestre em Estudos Linguísticos.
