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Ilha de Itaoca: roteiro de cinema no município de São Gonçalo - por Erick Bernardes


Foto: Reprodução/Arte: Jornal Daki
Foto: Reprodução/Arte: Jornal Daki

Sabemos da existência de artistas contratados para criar histórias a serem levadas aos cinemas e televisores de pessoas ávidas por entretenimento. Assim surgem inúmeros criadores de fábulas, roteiristas de romances, inventores de aventuras, dentre outros profissionais importantíssimos para a cinematografia mundial. No entanto, nada melhor do que a vida real para proporcionar enredos mirabolantes que nos façam remexer no sofá e respirar afoitos por causa de um ou outro assassinato ou perseguição policial. E de fato foi o mundo concreto que nos ofereceu esta trama: um líder da máfia italiana vivendo no estado do Rio de Janeiro, mais especificamente em São Gonçalo.


Essa incrível narrativa ocorreu aqui, no município gonçalense, na restinga da Ilha de Itaoca. E, acredite ou não, qualquer semelhança com as telonas de Hollywood é só mais um indicativo de que tramas, suspenses e paixões surgem em qualquer lugar do mundo, especialmente quando seus enredos se apresentam como lendas de pescadores ou contações de histórias na boca dos moradores. Dizem até que o caso serviu de tema à literatura do poeta e cordelista cearense Zé Salvador. Claro, o inusitado tem lá também o seu glamour, tanto assim, que virou verso poético na mão do artista nordestino. Contudo, desnecessário recorrer à ficção, pois quis o destino trazer para São Gonçalo o mafioso mais procurado da época. Incrível, máfia italiana, assunto de polícia internacional, você vai se surpreender!


Bem, o caso é o seguinte: Tommaso Buscetta fora considerado homem perigosíssimo na Europa. Nascido na Sicília, envolveu-se com a bandidagem chamada de Casa Nostra, chegando até a ser visto como o mais influente dentre os membros dessa organização criminosa. Mas Tommaso fugiu para o Brasil e aqui se misturou à população. Alguns anos após, descobriram-no passeando sobre as areias de uma praia e se deliciando com abricós e araçás que a vegetação oferecia.

Ao ser descoberto e preso na Ilha de Itaoca (isso mesmo, detido em São Gonçalo) o bandido delatou nomes de alguns grupos mafiosos e seus respectivos modos de ação. Algo por sua vez inimaginável, já que o sigilo entre clãs rivais imperava entre os criminosos sicilianos. Aqui no Brasil o improvável transforma-se em notícia jornalística e, anos depois, a história de Tommaso Buscetta toma contornos de narração folclórica. Sim, verdade, principalmente devido ao sobrenome soar semelhante à palavra vulgarmente designativa de vagina. Fatalmente o crime transmutava-se em curiosidade ou bate-papo cômico — e até chegar ao termo chulo foi questão de minutos. Nas conversas de botequim, confundia-se propositalmente a palavra: B-u-s-ce-t-t-a! Sonoridade aproximada com órgão reprodutor feminino. De quando em vez alguém gritava gargalhando, repetidas vezes, divertiam-se com o sobrenome motivador.

Enfim, embora tenha caído nas graças do povo brasileiro, a história de Tommaso Buscetta nada tem de engraçada. Esse homem cruel revelou-se assassino e traficante dos piores que já se viu. Entretanto, o leitor sabe bem como é: se fosse história de Hollywood, certamente o sucesso não tardaria a chegar nos cinemas de shopping centers ao redor do mundo.

>>> Publicado originalmente em 03/02/2019.


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Erick Bernardes é escritor e professor mestre em Estudos Literários.


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