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Uma aventura interplanetária em 'Interferência', de Márcia Silva


Jovens são curiosos e namoros de adolescentes quase sempre são conturbados, previsíveis, mas trabalhos de cientistas, por vezes, exigem engajamentos que vão além do que o leitor esperaria de histórias sobre físicos e astronautas. Junte agora tudo isso em um único livro. Pronto! Está composto assim o cardápio do romance Interferência (2018), primeira obra de ficção de Márcia Silva. O livro vem com o selo da editora Autografia e apresenta lindíssima capa ilustrada pela artista Tatiana Agra, conferindo assim apresentação elegante ao volume construído sobre a temática interplanetária.


Marcia Silva é graduada em Letras com doutorado em Letras Clássicas. Professora de Língua e Literatura Latina e Cultura Clássica há duas décadas, atualmente leciona na Universidade Estadual do Rio de Janeiro. De acordo com a autora, o gosto pela literatura voltada para o público jovem surgiu junto às leituras compartilhadas com a filha quando esta ainda era adolescente. Daí o interesse especial por esse modelo de composição literária nesta que é a sua obra inaugural.

Embora Interferência não seja obrigatoriamente destinada ao público juvenil adulto, está claro que, ao construir a trama, o texto apresenta protagonistas jovens que se lançam ao desconhecido planeta Krios, e a história de um possível futuro interespacial se revela. Angustiada pela “mesmice” do mundo em que vive, como é típico da adolescência sempre ávida por novidades, a jovem personagem Dora busca desvendar o planeta estranho, onde fixa residência junto à sua mãe também cientista. Como não podia ser diferente, para o bom andamento da trama, imprevistos ocorrem durante a ambientação no planeta Krios. Uma dessas surpresas acrescenta uma pitada de tempero ao enredo, a saber: o relacionamento indevido entre a jovem Dora e o nativo Marvil, habitante local do novo planeta, cuja ascendência remete aos primeiros seres de Krios. Tudo isso proporciona uma série de aventuras com as quais o leitor é capaz de se identificar, por causa da semelhança dos personagens com as pessoas do mundo de hoje cheio de tecnologias.

Segundo o próprio prefácio de Interferência (2018), o leitor que optar pelo romance de Silva terá em mãos “um livro cujo enredo revela um caráter sobretudo provocador, pois encontra-se em franco diálogo com assuntos urgentes: racionamento de água, falta de comunicação entre os homens, intolerâncias sobre questões étnicas”. O romance é o primeiro de uma série de histórias com algumas referências mitológicas misturadas ao enredo futurista. O livro de Márcia Silva traz a público elementos da história clássica greco-romana, por exemplo, a narrativa de Pandora e seu famoso vaso, passando por nomes da literatura universal como William Shakespeare, Franz Kafka e até Machado de Assis. A história possui como fio condutor a invenção de uma língua comum, o UniL, no intuito de proporcionar a comunicação entre os seres (o Comunicador) com os nativos do planeta Krios. Interferência toca em questões sobre éticas e ecopolítica, justamente por apontar problemas como: racionamento de água, relações sociais, questões étnicas, dentre outras atribuições.

Enfim, para quem se interessa por aventuras espaciais, o romance de Márcia Silva se mostrará excelente, porque apresenta justamente aqueles atrativos acerca de investigações policiais, lutas, amores proibidos e mistérios. Portanto, como conclama a própria quarta-capa do livro de Silva: “fica aqui um convite — e uma ótima viagem — àqueles que decidem embarcar” nessa deliciosa aventura. Mas... cuidado, pois vão entrar em um terreno totalmente desconhecido, onde o leitor será abduzido ao mundo da ficção.

Referências: SILVA, Márcia R. de F. da. Interferência: série Krios. Rio de Janeiro: Autografia, 2018.



Erick Bernardes é escritor e Mestre em Estudos Literários.

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