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Witzel vestiu a faixa da morte, por Mário Lima Jr.



Teve início a temporada oficial de caça aos bandidos no Rio de Janeiro. Ilegal, mas inaugurada pelo governador. Wilson Witzel revelou que atiradores de elite já agem no Estado, de forma secreta, prontos para estourar os miolos de quem estiver portando fuzil. Inclusive se não houver ameaça iminente à vida de alguém. A ordem é matar, a origem e o destino das armas são temas secundários, não rendem votos.

Incentivar o extermínio não deveria ser o papel do governador de um Estado sob calamidade financeira, onde o desemprego é maior do que a média nacional e 83% dos jovens infratores da capital abandonaram a escola. Witzel vestiu a faixa da morte quando tomou posse, ao invés da faixa da Educação e do desenvolvimento econômico e social. Cabe ao governador exibi-la de peito aberto, com a transparência que sentenciar um ser humano à morte exige.

Que o corpo de cada pessoa, marginal ou cidadão segurando guarda-chuva, seja resgatado pelo policial mais corajoso do BOPE, com quem Witzel foi até o chão fazendo flexões de braço. Que as roupas ensanguentadas do morto sejam rasgadas, amarradas e colocadas sobre os ombros largos do governador.

Como quem puxa o gatilho é o atirador de elite, Witzel deve participar da barbárie mais de perto. Ele carregaria o sangue do morador de São Gonçalo e de Duque de Caxias, da Vila Kennedy e da Cidade de Deus aos compromissos oficiais dentro e fora do Palácio Guanabara. Sangue dos jovens que apanharam da polícia, que nunca acredita na honestidade do negro favelado. Sangue dos jovens aliciados pelo tráfico, que se apresenta como único caminho para conseguir dinheiro e respeito.

Depois de um dia cansativo, sem tirar as faixas que conquistou, rígidas pelo sangue coagulado, o governador se sentaria à mesa para jantar com a família. Quem mata não sente nojo, não faz cara feia. Afinal, Witzel já provou o tamanho da sua frieza durante a campanha eleitoral, ao defender as execuções em entrevistas para canais de televisão, em horário nobre, e jornais do país inteiro.

Além das vítimas do tráfico de drogas, dois milhões de pessoas vivem em áreas sob influência de milicianos no Rio de Janeiro. Bandidos que guardam centenas de fuzis em condomínios de luxo, dignos de um Presidente da República, e aterrorizam a Baixada Fluminese, a Região Metropolitana e comunidades da capital. No governo Witzel existe estratégia para matar e desrespeitar a lei, mas nenhum planejamento eficiente contra a tristeza de ser expulso de casa, de ser obrigado a pagar pela própria segurança – responsabilidade do Estado – e contratar serviços de internet e tv por assinatura controlados pela milícia.

A promessa de matar mirando na “cabecinha” elegeu Witzel e ela jamais o perturbou. O governador continua capaz de exibir para as câmeras um sorriso puro e infantil, quase angelical, mesmo derramando sangue. Transformando o número de execuções e faixas no principal indicador de qualidade do governo, ao final do mandato veremos que tipo de pessoa Witzel se tornou e se alguém suportará o incômodo de ficar ao seu lado.


Mário LIma Jr. é escritor.

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