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8 de Março como dia de luta, reflexão e empatia com as Mulheres - por Dimas Gadelha


Histórica Passeata dos Cem Mil com mulheres à frente: junho de 1968/Foto: Reprodução
Histórica Passeata dos Cem Mil com mulheres à frente: junho de 1968/Foto: Reprodução

Na próxima terça, 8 de março, o mundo todo celebra o Dia Internacional da Mulher.


Todos os anos, desde a sua celebração no início do século XX, nos perguntamos se temos algo a comemorar nessa data que marca a emancipação e a luta femininas por direitos numa sociedade sabidamente violenta e marcada pelo machismo patriarcal, condição ainda mais acentuada e grave no Brasil nos últimos anos.


O aumento dos casos de violência contra a mulher, por exemplo, é apenas um sintoma disso. Realidade que tomou proporções ainda mais alarmantes durante a pandemia. A pandemia da Covid-19 trouxe junto uma epidemia de violência que fez explodir os casos de estupros e feminicídios no Brasil a partir de 2020.


Eu tenho, em razão da profissão de médico, alguns casos concretos do quanto a vida continua sendo muito dura e desigual para as mulheres. Histórias de pacientes relatadas ora de modo despretensioso, ora como desabafo ou como pedido de socorro por não terem mais a quem recorrer.


Como a história de X., 35 anos. Permita-me identificá-la com uma inicial aleatória.


Casada e com dois filhos, me procurou para uma consulta que deveria ser corriqueira após análise de hemograma que pedi. Seus óculos não conseguiram esconder os hematomas no rosto.


Percebendo o meu olhar, adiantou-se em dar a explicação clássica e autoprotetora de quase toda mulher agredida, tomada por uma culpa e vergonha que não são delas: “Caí, doutor”. Respondeu, sem eu ter perguntado, para logo depois desabar em choro e desabafar o quanto sofria com as surras do marido violento em sua casa, na frente das crianças de 5 e 7 anos.


X. é moradora do Jardim Catarina, um deserto de equipamentos públicos em São Gonçalo. Os sistemas de proteção a mulheres nessa situação são frágeis e não dão conta dos inúmeros casos como esse na cidade, mesmo tendo o reforço de uma instituição da sociedade civil referência, como o Movimento de Mulheres de Sâo Gonçalo (MMSG).


Felizmente X. não engrossou as mais terríveis estatísticas de violência contra a mulher: o feminicídio. Soube que foi resgatada do “inferno” por sua família que a levou para onde moram, em outro estado do país, sem paradeiro conhecido porque o agressor continua sendo uma ameaça para mulher e filhos.


Também ouço histórias de mulheres como A., 78 anos, que não tem acesso à saúde geriátrica. Assim como sua filha, M., 42, que sofre com um câncer de mama por não ter acesso pleno a tratamentos oncológicos, só encontrados no Inca ou em Rio Bonito, bem longe de sua casa na Trindade.


Casos como o de S., 25 anos, que veio à consulta ainda sob a dor do luto de ter perdido o filho num trabalho de parto mal feito no único Hospital Maternidade público de São Gonçalo. Só um dos milhares de casos de violência obstétrica que atinge as mulheres, principalmente negras e pobres.


Histórias como a de C., 45 anos, que não consegue recolocação no mercado de trabalho, mesmo tendo ensino superior. Ela está desempregada há dois anos depois de denunciar assédio sexual de seu chefe na empresa onde trabalhava.


Assim como o caso cada vez mais comum de K., 18, que pediu um biscoito em cima de minha mesa, com mãos trêmulas de fome. Em sua casa moram ela, mãe e mais três irmãs em mesma condição. O pai é desconhecido.


Antes de sair, K, perguntou onde podia pegar absorventes para ela e as irmãs porque ouviu dizer que o “governo tava dando”. Como sabemos, projeto sobre saúde menstrual de autoria da deputada Marilia Arraes (PT-PE) foi aprovado pelo Congresso, mas vetado por Bolsonaro em outubro de 2021.


São histórias narradas no microcosmo do meu consultório, mas que infelizmente se confirmam em escala em todo o Brasil.


Devemos sim celebrar o 8 de Março. Como dia de luta, reflexão e empatia com a causa das Mulheres.


De minha parte, aprendo muito com Alessandra, minha mulher, e com milha filha, Maria Helena, a ser cada vez menos machista.


Um Viva às Mulheres!


***

Aproveito para fazer a você um convite: nesta terça, justamente no 8 de março, estreio o quadro Dimas fala para São Gonçalo na Rádio Aliança, 98,7 FM.


Irei receber na estreia a querida vereadora de Niterói Verônica Lima, para falarmos justamente sobre os desafios das Mulheres nos tepos atuais.


Conto com a sua audiência.


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Dimas Gadelha é médico sanitarista, secretário de Gestão e Metas de Maricá e ex-secretário de Saúde de São Gonçalo.










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