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A classe média já pode conhecer, e ajudar, São Gonçalo, por Mário Lima Jr.


Foto: Rafael Corrêa
Foto: Rafael Corrêa

Na abertura do Festival de Cinema de São Gonçalo, em setembro do ano passado, uma pessoa desabafou ao meu lado, transmitindo um pouco de raiva e decepção na voz.


– A classe média não conhece São Gonçalo e não se esforça para conhecer a cidade. Valoriza o que vem de fora em detrimento da construção cultural e social gonçalense.


Era o Professor Josemar, pré-candidato do PSOL à Prefeitura. A classe média gonçalense frequenta eventos e espaços das cidades vizinhas e não estava presente no SESC para a abertura do festival de cinema do próprio município. A frase de Josemar é verdadeira e ficou na minha cabeça durante esses meses.


A definição de classe média mais interessante que conheço diz que é o grupo que possui renda suficiente para atender suas necessidades básicas, como alimentação e moradia, e ainda pagar por cultura, educação e diversão. Grupo limitado por um teto de renda mensal por integrante familiar que varia ao longo do tempo.


Há alguns anos era realmente preciso se deslocar para a cidade vizinha, aquela que roubou nossas praias e nos parasitou por décadas, para curtir uma noite com os amigos com música ao vivo, bebidas destiladas e comidas caras. Hoje não. São Gonçalo oferece opções de serviços e gastronomia como a classe média gosta. E sempre ofereceu cultura, embora com pequeno alcance. É hora de assumir a cidade como sua e contribuir para o seu desenvolvimento.


Digamos que você, bela integrante da classe média municipal, que pretende se mudar de São Gonçalo o mais rápido possível, queira ter uma terça-feira especial, no seu dia de folga, depois de ver tantas notícias tristes sobre violência. Caso more mais perto do Centro do que de Alcântara, comece o dia no Bistrô D’Avó, com um café feito na sua frente, acompanhado de uma fatia de bolo. Pode responder às mensagens do WhatsApp na sombra da varanda e ler as notícias da cidade no Jornal Daki, distribuído de graça no bistrô.

Caso more mais perto de Alcântara, visite o Justo Café. É lugar padrão Leblon ou Ipanema. Nesse calor, uma soda italiana vai te convencer a continuar vivendo em São Gonçalo. Pra que a pressa de ir embora? Pegue um livro na estante, tão gratuito quanto o Jornal Daki no Bistrô D’Avó.


Tudo bem, você não gosta de ler pra passar o tempo, mas adora um salão de beleza. No Raul Veiga, a menos de 20 minutos do Justo Café, aproveite o resto da manhã no Salles, salão de luxo no térreo do centro empresarial Da Vinci.


Sou do tempo que nem o shopping da BR existia e olha que agora até Outback, a partir do próximo dia 18, uma terça-feira!, teremos lá. Depois de almoçar no Outback, você pode usar o espaço de trabalho compartilhado gratuito do shopping pra planejar seus projetos. Dessa vez, ao invés de pensar em enriquecer sozinha, em como fazer seus funcionários produzirem mais sem gastar nenhum centavo adicional, considere pensar no bem comum, um negócio que invista o lucro exclusivamente na saúde do próprio negócio e das pessoas que fazem parte dele. Pode ser a última coisa que você precisa para ser feliz. Pode ser aquilo que São Gonçalo precisa para ser uma cidade melhor.


Pessoalmente não gosto de ficar dentro de shoppings por muito tempo. Prefiro almoçar em frente à Prefeitura e ouvir o que secretários de governo e donos de cargos comissionados conversam. Em São Gonçalo, se você é classe média, pode sentar na mesma mesa que o prefeito. É mais digno e democrático do que fazer papel de estrangeiro metido em outras cidades.

Depois do almoço, pra relaxar, vale uma ida à Igreja Matriz, marco da expansão da cidade. Lá existe uma coleção de fotografias históricas que todo gonçalense deveria conhecer. Ao lado da Matriz, passe na Casa das Artes e olhe o que os artistas locais estão produzindo. É ótimo ver os lugares onde você passa todos os dias retratados em uma tela. Ou simplesmente pare na praça Zé Garoto para tomar um sorvete. Esqueça essa história de cracudo, o que mais tem na praça é silêncio e sombra.


Ainda no Centro, no fim da tarde, cabe uma cerveja artesanal da melhor qualidade na cervejaria Dois Lados, no shopping Partage. No início da noite, um hambúrguer no Garage Burger, na Parada 40. Moradores de Niterói frequentam o lugar. Se o seu dinheiro ficar aqui, as chances de São Gonçalo crescer como uma cidade são maiores.


Não se engane achando que Alcântara, Raul Veiga, Centro, Parada 40 e Boa Vista são as únicas opções. Tem restaurante japonês no Pacheco, amigo. Nem pense que é preciso pagar para conhecer a cidade. Uma caminhada ao Alto do Gaia ou um banho nas nascentes das Grutas de Caulim renovará suas energias por dez anos. São Gonçalo está disponível pra quem quiser. E nosso festival de cinema é melhor do que o de Gramado. Porque é nosso, em primeiro lugar. É seu.

Mário Lima Jr. é escritor.




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