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Alcântara: um caso metalinguístico - por Erick Bernardes


Foto: Erick Bernardes
Foto: Erick Bernardes

O professor entra na sala de aula em uma daquelas manhãs comuns que lhe fazem bocejar duas vezes antes de começar chamada. A escola é do tipo tradicional, os alunos também. Talvez por esse motivo as perguntas não o surpreendem:


_ Bom dia, professor, vi num site sobre um conceito, confesso não compreender. O que é metalinguagem?


Uma pergunta embora corriqueira feita assim de manhãzinha e com interesse de verdade dá gosto de responder. Que maravilha, o aluno se interessou pelas letras. Necessário aproveitar o ensejo e desenvolver mais o assunto.



_ Metalinguagem é a linguagem que tem por finalidade explicar ela mesma. Quer dizer, utiliza-se o próprio código para explicá-la. Usamos bastante a metalinguagem no dia a dia. Quando falo do modo como se constrói um texto, por exemplo, dentro do próprio texto, estou usando desse recurso. Eu mesmo, certa vez, diante da dificuldade de pensar num assunto para escrever minha crônica semanal, narrei sobre essa mesma dificuldade de encontrar o tema. Ou seja, a falta de ideia virou o próprio assunto. Vale lembrar que nos escritos acerca das funções da linguagem, o estudioso Roman Jakobson (1974) se refere à função metalinguística como aquela cuja linguagem fala de si própria. Além disso, de acordo com o Dicionário Carlos Ceia, "a gramática, por exemplo, é um discurso essencialmente metalinguístico, porque se trata do código explicando o próprio código. Quando se faz análise sintática, faz-se uso dessa função" (2010).


_ Por falar nisso, professor, comentaram ontem que o senhor enxerga crônica em tudo que vê.


Impossível negar, afirmação correta, principalmente quando, pouco antes, passando pela rua da feira de Alcântara, me deparo com a loja de roupas cuja placa de propaganda ostentava em letras garrafais: CRÔNICAS FASHION. Como não notar? Exatamente assim. Um caso crônico ou fixação no gênero. E eu me segurando para não escrever sobre isso. Coisa de escritor.


Referência:

 

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Erick Bernardes é escritor e professor mestre em Estudos Literários.


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