Aos amigos, trator superfaturado; ao povo, desprezo e abandono
Ministério da Cidadania usou recursos de R$ 89,9 milhões de dinheiro do Bolsa Família para comprar tratores para políticos da base aliada
Por Helcio Albano
O sujeito que ainda ocupa a presidência da república não tem limites. Agora, como revela a Folha de S. Paulo, o governo do coisa ruim teve a coragem de desviar R$ 89,8 milhões que deveria ser direcionado para mitigar o impacto da pandemia da Covid-19 em comunidades pobres para comprar tratores beneficiando amigos da base aliada.
É mais um escândalo que revela a natureza corrupta de um governo que trabalha com afinco para destruir o país e o seu povo.
Segundo a reportagem, o dinheiro, sobra de orçamento do Bolsa Família substituído pelo Auxílio Brasil em dezembro de 2021, já tinha destinação de custeio de enfrentamento à Covid-19 e de combate aos seus efeitos sociais e econômicos em acórdão do Tribunal de Contas da União (TCU).
A determinação, porém, foi solenemente ignorada pelo Ministério da Cidadania que usou os recursos para adquirir de modo irregular os equipamentos.
Os 247 tratores, comprados da empresa chinesa XCMG, seriam distribuídos em 23 estados. O maior beneficiado foi a Bahia, estado natal do então ministro da Cidadania - e agora pré-candidato ao governo - João Roma, com 23 tratores.
As máquinas, entre motoniveladoras e pá-carregadeiras, ainda estão no pátio da empresa em Pouso Alegre (MG), mas o termo de recebimento já foi assinado pela coordenadora da pasta, Andreza Colatto, em março. Dois dias depois, é feito o despacho de solicitação de liquidação dos pagamentos. Tudo errado.
Andreza é filha do deputado Valdir Colatto (MDB-SC), historicamente ligado ao agronegócio. comprovando a inversão de prioridade e destinação do dinheiro com a digital do governo federal.
Em maio de 2021 o Estadão já tinha pego os abutres da corrupção em pleno voo ao denunciar a compra superfaturada de tratores via orçamento secreto a pedido dos aliados do centrão, usando a Codevasf como laranja. Equipamentos que custavam R$ 200 mil eram adquiridos por até R$ 500 mil.
As denúncias - que geraram notícia-crime no Supremo Tribunal Federal (STF) e arguição sobre a própria constitucionalidade do orçamento secreto, relatado pela ministra Rosa Weber - foram encaminhadas ao TCU que vai decidir se o orçamento secreto é imoral, ilegal ou engorda.
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Helcio Albano é jornalista e editor-chefe do Jornal Daki.
