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Arlete, a Divina. Por Paulinho Freitas

SÃO GONÇALO DE AFETOS

O show foi um sucesso/Foto: Reprodução Internet
O show foi um sucesso/Foto: Reprodução Internet

Arlete tem 1,90m, um cabelo de tranças até o meio das costas, lábios grossos e o sorriso mais simpático que este São Gonçalo já viu. Na verdade nasceu Célio, mas sinceramente, acho que Arlete é muito mais legal do que o Célio seria. Gerente de uma grande casa de shows na cidade no início do século 21 nossa competente Arlete não economiza saúde no trabalho, quando não está lá de corpo presente está pensando em como melhorar.



Numa tarde de segunda feira após fazer o fechamento dos caixas do final de semana e cumprir todas as obrigações, se deu direito a uma esticada de pernas na cadeira da recepção fumando um cigarrinho e tomando aquele merecido café. De repente a porta central se abre e três figuras surgem a sua frente e ela prontamente levanta e deseja uma boa tarde com aquele sorriso de iluminar o mundo. Os caras passaram por ela como se ninguém estivesse ali. Entraram na sala do dono e lá ficaram um tempão e lá dentro as gargalhadas aumentavam a cada dose de bebida. Ao saírem, da mesma forma que entraram, passaram por Arlete sem a notarem. Fecharam diretamente com o dono uma apresentação de um grande sambista carioca que arrasta multidões onde passa.

Chegado o grande dia a casa lotou. Às duas da manhã um novo estoque de bebidas teve que ser posto à venda, pois o grande estoque inicial já havia sido consumido. Pela manhã algumas garrafas de bebidas vazias e uns poucos boêmios teimavam em não deixar a noite terminar.


Na segunda feira Arlete já se preparava para sair quando os três homens apareceram de novo. Da mesma forma que das outras vezes passaram por Arlete e foram direto à sala do dono da casa de shows. Só que desta vez ela estava trancada, o dono viajara e só voltaria na quarta feira. Os homens então voltaram para Arlete e o mais mal encarado iniciou o seguinte diálogo:



_Então, somos os produtores do show de sábado e viemos acertar as contas e pegar a nossa parte.


Arlete responde com a calma de um monge, com aquela voz arrastada com sotaque baiano beirando o deboche:


_O senhor trouxe o contrato?


O homem já ficando sem paciência responde:


_Que contrato? Fiz trato com homem! Foi na palavra!


Arlete toma o último gole de café quente da xícara e dá aquela tremidinha arrepiante por causa da quentura e fala:


_Então o senhor, por favor, volte outro dia e resolva com quem de direito, pois a mim nada foi passado e nada posso fazer.


O homem ameaça:


_Só saio daqui depois que resolver isso e se não resolver garanto que não vai ficar bom.


Arlete levantou, ajeitou o sutiã, respirou fundo, deu uma jogada de cabelos para trás e emendou:


_ Amigos, vocês já passaram por mim três vezes sem me notarem, não trataram nada comigo e agora querem que eu resolva e ainda ameaçam! Pois bem, eu não tenho medo de homem, pois sou muito bem casada com um. Sou muito educada, mas também sei “fazer na mão.” Não admito falta de respeito comigo! Vocês já começaram a me irritar.


Pegou a bolsa, jogou às costas, deu outra balançada de cabelo, olhou para os três e encerrou a discussão:


_Boa tarde!


Disse isso e saiu em direção ao portão principal onde “Caju Doce,” apelido carinhoso dado por Arlete a Nelson, um baixinho troncudo lá do Morro da Salga, a aguardava e com cara de poucos amigos encarava os três homens que sem saber o que fazer ou dizer olhavam Arlete caminhando rebolativa ao encontro de seu amor.


“Caju Doce,” depois de um demorado beijo de saudade pergunta:


_O que você quer lanchar?


Arlete responde:


_Café completo com direito a chantilly e bolo de morango. E você?


“Caju Doce” responde:


_Vou tomar um chope com umas empadinhas.


Arlete fica manhosa:


_Você sabe que eu não gosto quando você bebe, fica chato, ciumento, possessivo.


“Caju Doce” beija as mãos de Arlete, abre um largo sorriso e confessa:


_Eu já queria pegar aqueles três. Você não viu como eles ficaram te olhando por trás com olhar de cobiça? Eu me controlei, mas quase fiz besteira.



Arlete dá um suspiro apaixonado, beija seu grande amor e saem os dois abraçados em direção ao shopping. Da porra da casa de shows os três valentes, impotentes diante da situação se entreolham sem saber o que fazer. A tarde caiu rápido e aquele vento gostoso enchia de afetos nossa querida São Gonçalo. Aff credo!!!!!!!

Paulinho Freitas é compositor, sambista e escritor.




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