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Conserto de sapatos, por Fábio Rodrigo


Reprodução Internet
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Seu sonho era consertar sapatos. Na escola, seus colegas de classe queriam ser engenheiros, advogados, médicos, mas ele só queria consertar sapatos. Fez o vestibular por imposição familiar, mas, logo que saiu o resultado, seus pais perceberam que a vocação do filho não era para os estudos. Terminou o ensino médio e deu início à sua empreitada. Pôs uma plaquinha no portão de casa: conserta-se sapato. Aos poucos, foram aparecendo clientes interessados.

Em um ano, já tinha formado sua clientela. E passou a ser referência no conserto de sapatos do seu bairro. Anos depois, vinha gente de outros municípios à procura do seu serviço. A demanda só aumentou, e ele precisou contratar ajudantes. Teve que se mudar para um local mais espaçoso para que pudesse dar conta da grande quantidade de sapatos a serem consertados.


Com seu ofício, conseguiu construir sua casa, casou e teve filhos. Consertar sapatos não era empecilho para dar uma boa condição financeira à sua família. Tinha orgulho em dizer que era este o seu trabalho. Seus filhos eram zombados na escola quando diziam que seu pai consertava sapatos. Anos mais tarde, os filhos resolveram seguir os passos do pai. Por fim, estavam todos bem encaminhados na vida e felizes por consertar sapatos.


Em algumas décadas, a empresa de conserto de sapatos tornara-se conceituada em todo o país. Os filhos do dono eram responsáveis por gerir todas as unidades espalhadas por vários estados, enquanto que os netos cuidavam de todo o apoio técnico e operacional da empresa. Maquinários altamente modernos e profissionais extremamente qualificados compunham esta imensa corporação voltada para a área de conserto de sapatos.


Anos mais tarde, após a morte de seu patrono, a empresa foi vendida para um grupo de investidores. A venda de ações da empresa aumentava e gerava lucros exorbitantes a seus acionistas. Comprar ações da empresa passou a ser uma das aplicações mais rentáveis no mercado financeiro. O lucro da empresa de conserto de sapatos era tão alto que não era preciso fazer mais nada. Absolutamente nada. Nem consertar sapatos.

Fábio Rodrigo Gomes da Costa é professor e mestre em Estudos Linguísticos.




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