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Desde que o samba é samba no município de São Gonçalo - por Erick Bernardes


Noca e Nadinho/Foto: Contribuição de Oswaldo Mendes
Noca e Nadinho/Foto: Contribuição de Oswaldo Mendes

Não é raro ao cidadão gonçalense raiz afirmar: “Me respeita que sou do tempo da Portela em São Gonçalo”. O que isso quer dizer? Bem, trata-se de uma época em que a escola de samba lá de Madureira mantinha estreitas relações com a cidade. Sim, verdade, foi no Clube Esportivo Mauá que a tradição se firmou.


Aconteceu nas décadas de 70, 80 e 90, quando os ensaios da escola de samba portelense, realizados no ginásio Cideny Monteiro, enchiam de alegria e se tornavam referência de entretenimento na cidade. Segundo o motorista de ônibus aposentado Jander Nascimento (58 anos): “Os domingos de sambão no clube garantiam casa cheia, quem viveu isso sente saudades. A cidade praticamente parava, eram momentos mágicos!”. Já para Sandro Mello (61 anos), hoje gerente de uma loja de tecidos em Alcântara, foram anos inesquecíveis: “Eram mais de 20 mil pessoas! A Portela trazia bateria, baianas, mestre-sala e porta-bandeira, as famosíssimas e maravilhosas Mulatas de Ouro que chamavam atenção até dos gringos. Uma beleza. Jamais teremos isso por aqui de novo. Também tínhamos o Baile do Azul e Branco que até passava na antiga TV Manchete”.


De acordo com Almir Barbio, que atua no departamento cultural portelense, a história da escola de samba com o Mauá é longa, um casamento bem interessante:



_ Bem, Erick, eu mesmo queria escrever sobre isso, era década de oitenta. Meu contato mesmo com a azul e branco começou no clube gonçalense, e eu já desfilo há vinte e nove anos. Recordo dos ensaios aos domingos, lembro da primeira vez, quando pisei no saudoso baile. Havia uma ala portelense com integrantes de SG, não lembro ao certo, acho que se chamava “Enverga, mas não quebra”. Foi Eugênio Abreu, na época ocupava o cargo de Diretor Social do clube, quem trouxe a escola para a cidade. Ele e o Paulinho tiveram essa importância histórica, frequentavam os ensaios da Águia no Mourisco, em Botafogo, e talvez lá tenha surgido a primeira ideia. Como Presidente da Portela, estava o Carlinhos Maracanã e o assessor era o Marco Aurélio.


Conforme o livro Clube Esportivo Mauá: um livro aberto, a “Diretoria Social montou uma programação para atender a todas as idades, da discoteque à seresta, convidando artistas de renome. O sambão continuou dando ibope. Os diretores Eugênio Abreu e Carlos Goldstein, associados ao empresário Rômulo Costa, tiveram a ideia de trazer uma grande escola de samba para ensaiar no clube. Foi um sucesso. Em outubro de 81, a Portela estreou e os ensaios chamaram a atenção da comunidade, proporcionando os recursos necessários para se pôr em prática um audacioso plano de expansão” (1989, p. 39)


Importa ressaltar que as atividades carnavalescas não se restringiam ao Clube Mauá. Uma simples crônica como esta não daria conta de elencar as mais de trinta escolas de samba espalhadas por SG. No entanto, a noite que continha o espetáculo da Portela chamava atenção, seguido pelo Baile do Vermelho e Preto e a empolgante Noite da Iguana. Depoimentos recordam os domingos, em todo o município, de quando uma escola convidava a outra e eram realizadas festas dignas de matérias nos jornais. Um caldeirão cultural em território papa-goiaba, incrível constatação. Um dos entendidos do assunto é o querido Oswaldo Mendes, que atendeu carinhosamente o nosso pedido de depoimento acerca dessa época bacana.


_ Qual era o enredo desse tempo, Oswaldo?


_ Vou cantar em vez de narrar:


Bahia é um encanto a mais

Visão de aquarela

E no ABC dos Orixás

Oraniah é Paulo da Portela

Um mundo azul e branco

O deus negro fez nascer

Paulo Benjamim de Oliveira

Fez esse mundo crescer (okê-okê) ...


_ Que lindo, mas conta, vai?


_ Bem, quem viveu o carnaval de SG, ou seja, qualquer pessoa que tenha um pouquinho de noção de boemia sabe que a cidade se dividia em dois clubes: o Tamoio e o Mauá. A família Nanci, com o Jair Marinho, foi fundamental na constituição desses movimentos. É interessante ressaltar que, nesse período, as escolas Unidos do Cubango e Unidos do Viradouro explodiam de frequentadores. Em nossa cidade tínhamos a Unidos do Porto da Pedra ainda nascendo e a Escola Cruzamento do Amor também iniciando suas atividades. Essas instituições brigavam pelos títulos gonçalenses, até que alguém teve a ideia sensacional de juntar a estrutura do Mauá e da Portela. Curioso você pedir meu depoimento no dia em que a Portela realiza suas eleições, com várias chapas. Um processo democrático, por ser uma das poucas escolas que não possuem donos.


_ Consegue uma foto para eu ilustrar esse texto, por favor?


_ Claro, aí vai. Na imagem, os queridos Noca e Dadinho, degustando o símbolo do seu livro Cambada.


_ Obrigado, meu caro.



Referências:

Autor. Clube Esportivo Mauá: um livro aberto. Rio de Janeiro: Editora Artefinal, 1989.

Nota: um agradecimento especial aos queridos Oswaldo Mendes e Almir Barbio pelas informações oferecidas.

 

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Erick Bernardes é escritor e professor mestre em Estudos Literários.


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