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J. POETA - O Conquistador. Por Paulinho Freitas

SÃO GONÇALO DE AFETOS

Arte: Jornal Daki
Arte: Jornal Daki

J. Poeta não podia ver uma mulher bonita que já investia. Dono de um grande talento com as palavras ele ia acumulando paixões pela vida. Ardiloso, ia à missa todos os domingos e chorava copiosamente na hora dos cânticos. E ao receber a comunhão, era um artista. Frequentava a casa das paroquianas, almoçava, jantava e namorava as moças, que se derretiam por ele, enquanto seus pais o queriam matar. De Neves a Ipiiba contava com mais de vinte noivados feitos e desfeitos, sempre com a desculpa de que precisava se encontrar, que não merecia ter a seu lado tão grande mulher.


J. Poeta, bom de papo e de coração generoso tinha muitos amigos, as festas de seus aniversários eram concorridíssimas, todo mundo queria participar e duravam, às vezes até dois dias. J. Poeta é um cidadão pantopolista, é do mundo e de todo mundo. Um canalha com as mulheres, querido, amado e desejado, mas um canalha.


Semana passada estava ele tomando uma cerveja artesanal num bar poético de São Gonçalo quando viu o rebolar de Alice passar por ele. Aquele balançar de bunda era como as batidas de seu coração, a marcação de um surdo num samba dolente, um soar do badalar dos sinos da igreja matriz na hora da Ave Maria.


Rapidamente cochichou umas belas palavras no ouvido da beldade que não lhe deu a mínima atenção. Quando se virou de volta para o balcão deu de cara com o namorado da moça. Um cara com 1,90m de altura e uma envergadura do mesmo porte, os músculos pulando da camiseta e uma cara de dar medo ao mais temido dos vilões, encarou J.Poeta e perguntou:


_ Algum problema aí irmão?



J. Poeta murchou na hora, mas sua mente diabólica achou uma saída. Olhou com desejo nos olhos do grandão, mordeu os lábios e respondeu:


_ Perguntava a ela como um deus grego como você pôde se interessar por tão sem graça criatura. Faço por ti o que ela nem sonha em aprender a fazer.


O grandão emendou:


_Você vai lavar minhas roupas, fazer minha comida e pagar minhas contas?


J. Poeta incorporou o personagem de vez:


_ Lavar e passar não posso porque só as unhas de acrigel que vou pôr daqui a pouco custam trezentos e cinquenta reais, passar não passo porque tenho medo de levar choque, fazer comida não posso porque não sei cozinhar e pagar suas contas também não posso porque não possuo recursos para isso. Só posso te dar amor e maior do que o meu duvido encontrar, sou raro.


O grandão já ficando vermelho sentenciou:


_Você tem dois segundos para sair de perto de mim antes que eu te quebre na porrada!


J.Poeta fez um bico de desdém, levantou a cabeça debochadamente e saiu andando com um sutil rebolado. Ia pela rua falando sozinho:


_ Viu seu otário, agora todas as vezes que você ver este cara vai ter que desmunhecar!


Na primeira esquina encontrou um amigo que o saudou festivamente:


_E aí poeta! Como é que você está?


Antes que ele respondesse o amigo emendou:


_Olha a morena que vem aí com aquele cara.


J. Poeta quando viu o grandão já desmunhecou e falou mole:


_Eu hein! Meu negócio é outro!


O amigo estranhou e perguntou:


_ Você está com algum problema irmão?


J.Poeta sempre olhando pro grandão que o olhava como uma fera querendo destroçar a presa, saiu num requebrar, fazendo caras e bocas respondendo:


_ Nem te conto amigo! Nem te conto! Aff!!!!!!

 

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Paulinho Freitas é sambista, compositor e escritor.



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