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O barbudo tinha razão: 'trabalhadores do mundo uni-vos' - Por Karla Amaral


Um dia desses uma amiga e xará veio me contar sobre uma observação que ela fez nas ruas da nossa cidade. Ela me disse exatamente o seguinte: “Vejo tanta gente trabalhando informalmente com uniformes da época da grande efervescência das empresas navais. E que era de um momento onde essas pessoas tinham direitos trabalhistas garantidos e empregos. E hoje esses trabalhadores estão usando esses uniformes para fazer obra ou catar material reciclável.” E ela continuou a refletir: “O que esses uniformes representariam? É como se esses uniformes fossem um fantasma de um momento bom que já vivemos em São Gonçalo”. A observação dela é extremamente perspicaz e sua reflexão mais ainda.



Nesta semana quando todos nós estávamos preocupados com o voto impresso, o texto-base da medida provisória 1.045 foi aprovado (10/08) na Câmara Federal e isso representa mais precarização e mais retrocesso a classe trabalhadora brasileira. A MP trata de alguns pontos preocupantes como: a criação de uma modalidade de trabalho sem direito a férias, 13º salário e FGTS; redução de pagamento de horas extras para algumas categorias profissionais, como bancários, jornalistas e operadores de telemarketing; e dificultar a fiscalização trabalhista, inclusive para casos de trabalho análogo ao escravo.



Essa MP é uma reedição da Carteira Verde Amarela do governo Bolsonaro. Os deputados que defendem essa MP dizem que esta medida irá gerar mais empregos. E essa história já ouvimos antes, não é mesmo? A reforma trabalhista do governo Temer teve esse mesmo propósito e que no fim das contas só aumentou a vulnerabilidade de trabalhadores e trabalhadoras e não alterou o quadro de desemprego do nosso país, pelo contrário, aumentou a informalidade, o trabalho por conta própria e sem carteira assinada.



Nossa Constituição Federal de 1988 colocou a proteção ao trabalho no patamar que visava assegurar condições mínimas à classe trabalhadora brasileira e hoje em 2021 (há tempos, na verdade) vemos essas condições mínimas desaparecerem aos nossos olhos sob o discurso neoliberal de “somos todos colaboradores e empreendedores” ou “não precisamos de carteira assinada, o ideal é abrir seu próprio negócio” ou aquele clássico: “seja você seu próprio patrão”.



O perverso discurso neoliberal vende fácil e a sociedade compra rápido. Ele promove o não reconhecimento da necessidade do coletivo e favorece que não nos enxerguemos enquanto classe trabalhadora. A tal da consciência de classe que o barbudo sempre falava. E falando no barbudo, ele tinha razão ou a gente se une ou vamos sucumbir.

P.s: dando nomes: minha amiga e xará é Carla Seixas e o barbudo é o Karl Marx.

Karla Amaral é psicóloga e escreve para o Daki aos domingos.




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