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O Coronavírus e seu poder de nos despir, por Sammis Reachers


Ministro da Saúde com presidente que disse dias antes que o coronavírus era uma fantasia
Ministro da Saúde com presidente que disse dias antes que o coronavírus era uma fantasia

Uma nova epidemia, seja de doença rediviva ou “inédita” tem o benefício, se é que esse termo pode ser utilizado sem dolo, de redimensionar o homem à sua estatura de apenas criatura: reles (embora solar), mortal (embora com a ânsia de eternidade ardendo em seu peito). Essa pausa para o recesso existencial, essa reflexão forçada sobre nossa fragilidade em tempos de corona vírus assume tons diferentes em cada coração: a uns causa angústia; noutros, revolta; noutros, um inescapável esforço de alheamento, de não pensar nisso, de refugiar-se numa fantasia qualquer. A maioria fica mesmo com sua dose, sua raçãozinha de medo.

A Bíblia, dentre seus muitos livros, possui um que, pelo caráter límpido de suas assertivas, poderia ser distribuído sem dolo ou ofensa entre os maiores céticos da Terra: o livro de Provérbios. Ao lado deste e na mesma linha, há um outro livro cuja sabedoria é mais elaborada, um livro “existencialista” que prenuncia, com quase 2.500 anos de antecedência, muitos dos temas filosóficos do séc. XX/XXI: O Eclesiastes. Dos seus muitos conselhos, um cabal é o que diz que “Melhor é ir à casa onde há luto do que ir à casa onde há banquete, pois naquela se vê o fim de todos os homens; e os vivos que o tomem em consideração” (Ec 7.2). Pensar na morte, vejam só!, faz bem à vida. Esse é mesmo um dos princípios do pensamento filosófico.

A doença equaliza as coisas: reduz o rico, que é vítima e também transmissor preferencial nesses inícios de epidemia, a seu desconfortável lugar de apenas mais um, a seu insuportável-para-ele lugar de ser um qualquer, “agraciado” pela sorte ou meritocracia com a única especialidade de... poder morrer primeiro. Ela põe cada centavo que ele amealhou, por vezes à custa de sangue e suor alheio, em xeque.


E mais: a doença global, totalitária em seu ímpeto globalista, expõe a fragilidade do global sistema: As duas maiores potências mundiais prostram-se em quarentenas e bilionários protocolos emergenciais em sujeição a um vírus. A Europa, pretensa/ruinosa trincheira do que é humano, para e contempla a limpidez do vácuo que a epidemia inoculou. A ONU é figura da paisagem; os grandes laboratórios farmacêuticos, cuja receita supera o PIB de muitos países, por ora são apenas amontoados de maquinários e cérebros curtidos em formol; os líderes políticos, ah, esses são um capítulo à parte.

Nosso espaço é curto; foquemos então em nosso mestre de fanfarras, nosso tocador e fabricante de berrantes, nosso “mito”: Num dia, bestificado pelas cansativas falácias da extrema-direita norte-americana (leia-se também e sempre: olavete) contra a imprensa, as vacinas e outras pautas alucinadas, vocifera que “o vírus é uma fantasia da grande mídia”. Horas depois, aparece em rede nacional vestindo uma máscara, e tendo um de seus homens próximos infectado com esse vírus. Nesse episódio tétrico, podemos ouvir a própria deusa Realidade arrotando nos ouvidos dos celerados: “Ei, moleques, então quer dizer que eu não existo?!! Pois desculpem-me pelo improviso.”


Ecumênico, o vírus Covid 19 é como um tarado que encontrou nosso fanfarrão já com as calças arriadas. Assim, fica fácil para o vírus. E terrível para nós.

 

Alguns livros (gratuitos) que escrevi ou organizei podem ser baixados AQUI.

Um pouco de poesia experimental? Eu experimento AQUI.

Sammis Reachers, nascido por acaso em Niterói mas gonçalense desde sempre, é poeta, escritor e editor, autor de sete livros de poesia e dois de contos, e professor de Geografia no tempo que lhe resta – ou vice-versa.




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