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O gonçalense sitiado é a imagem da decepção política - por Mário Lima Jr.


Foto: Filipe Aguiar, O São Gonçalo
Foto: Filipe Aguiar, O São Gonçalo

Sozinho, preso entre o poder dos bandidos, responsáveis por barricadas que se multiplicam sem parar, e ruas completamente alagadas quando chove. Sem poder ir a lugar nenhum, ignorando o próprio destino. Olhar perdido, voltado para um horizonte que não existe, encarando o vazio. Braços arriados e imóveis, o corpo encurvado pela luta diária, a água suja da enchente na altura da canela. Paralisado, o gonçalense hoje é a imagem da decepção política. O sofrimento deixa claro que gestões anteriores não cumpriram seu papel. E a indiferença do governo atual diante da perda material e do trauma aumenta a angústia do povo.


As vítimas que têm a casa invadida e perdem tudo a cada chuva não moram só em bairros distantes do Centro, como Sacramento e Santa Isabel. Os gonçalenses cercados por barricadas do tráfico de drogas não residem apenas em Monjolos e Vista Alegre. Localizada na esquina da Avenida Dezoito do Forte com a Presidente Kennedy, no centro comercial mais nobre de São Gonçalo, a vidraçaria Arte Galeria Box foi inundada, junto com os demais estabelecimentos comerciais da região. Molduras, quadros e obras de arte boiavam no triste vídeo que circulou nas redes sociais. Em uma cidade carente de arte e onde pontos de encontro como a vidraçaria são escassos, a omissão política destrói o pouco que existe.



Uma palavra de solidariedade pelo menos, publicada nas redes sociais do governo municipal, teria um efeito simples: mostrar que ele se importa com São Gonçalo. Que sente pelo sofrimento dos cidadãos. Palavra que não houve. Foi totalmente desprezado na comunicação oficial o fato de diversos bairros terem alagado (mais uma vez) entre os dias 10 e 11 de janeiro. Ignoraram inclusive a transformação das principais vias da cidade em rios de sujeira. Como se a São Gonçalo alagada e cercada por barricadas, ainda não removidas conforme promessa de campanha, pertencesse a um mundo paralelo, ao metaverso.


Ninguém culpa o governo atual pelas enchentes de hoje. Parte do eleitorado do prefeito – que inclusive filmou e compartilhou as enchentes – e os vereadores da oposição culpam o governo pela falta de estratégia para impedir novos alagamentos e cobram um plano de drenagem consistente. Os termos chuva, alagamento, inundação, drenagem e deslizamento sequer aparecem no projeto de governo apresentado à Justiça Eleitoral, embora representem um problema crônico.



O Novos Rumos, plano para investir o dinheiro recebido com a venda da CEDAE, estabelece o aumento da resistência da cidade às chuvas, mas não fornece detalhes sobre esse objetivo. Na verdade, o plano chega a ser frustrante porque diz que o Plano Municipal de Redução de Risco precisa ser revisado antes da ação. Quando, afinal, São Gonçalo agirá? O plano prova que medidas estruturais são necessárias e o motivo dos alagamentos não é exclusivamente o lixo jogado nas ruas. Lixo que, aliás, vem principalmente das empresas que também não respeitam São Gonçalo e a população.

 

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Mário Lima Jr. é escritor.



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