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Pelo direito de me indignar, por Karla Amaral

Gil do Vigor foi um dos maiores destaques do BBB 21/Foto Reprodução
Gil do Vigor foi um dos maiores destaques do BBB 21/Foto Reprodução

A frase “Estou indignado!” do Gil do Vigor do BBB 21 ficou na boca do povo, mas ela tem um peso tão grandioso que merece nossa total atenção. A indignação é um sentimento genuíno do ser humano, no entanto é tratado como algo de menor valor. Como algo que não produz implicação útil ou efetiva. Esse sentimento muitas vezes é descartado, isolado e até desqualificado. A capacidade e necessidade de se indignar deveriam ser comparadas a capacidade e necessidade de amar. Que forte! Sim, muito!


Paulo Freire no livro ‘Pedagogia da Indignação’ (título escolhido brilhantemente pela viúva Ana Maria Araújo Freire para cartas pedagógicas e outros escritos) descreve esse sentimento como um direito que perpassa pela não aceitação daquilo que está posto, daquilo que muitos irão dizer: “A vida é assim mesmo, fazer o quê?”. Para Freire a legitimidade da raiva e indignação deve preceder o movimento de luta e posicionamento ético-político. Da luta para mudar aquilo que oprime mulheres, homens, negros, negras, indígenas, LGBTIs, pessoas com deficiência e favelados de alma rasgada.



Qual é primeiro sentimento perante a miséria, a injustiça, o racismo, a LGBTIfobia, ao machismo, a violência? O que sentimos na garganta diante de fatos que escancaram a negação da humanidade e direitos básicos? É esse sentimento do qual falamos aqui. E o que fazer com ele? Com certeza reprimi-lo não deveria ser o caminho. Até porque o retorno do recalcado, diria Freud, ronda nosso inconsciente o tempo todo.


Ficar no plano da indignação também não é o caminho. Ela provoca angústia e ninguém quer viver mais angustiado do que já vivemos atualmente. Voltando às ideias freireanas, a indignação deve ser ponto de partida para uma posição mais radical e crítica onde a dialética entre a denúncia da situação opressora e o anúncio de sua superação deve ser ponto fundamental e incontestável.


Para quem anseia um futuro diferente só há duas opções nesta vida: a denúncia e o anúncio. A denúncia daquilo que nos restringe, nos reduz, nos anula e nos interrompe e o anúncio daquilo que nos liberta, nos determina, nos emancipa e nos encoraja. A denúncia e o anúncio são irmãos siameses e nossos melhores amigos. Não me peça para me conformar! Eu quero me indignar!

Karla Amaral é psicóloga e escreve para o Daki aos domingos.



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