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Putin é louco? Parte 2: O Euromaidan

Segunda parte de matéria especial sobre o que está por trás do conflito Rússia x Ucrânia que abalou o mundo


Por Felipe Rebello

Kiev, Ucrânia - a revolta de Euromaidan começou em novembro de 2013, e o conflito não se acaba ainda Aqui em particular alguma imagem tomada durante a primeira fase da insurreição/Foto: Reprodução Internet
Kiev, Ucrânia - a revolta de Euromaidan começou em novembro de 2013, e o conflito não se acaba ainda Aqui em particular alguma imagem tomada durante a primeira fase da insurreição/Foto: Reprodução Internet

Isso tudo serviu para chegarmos nesta parte. O #euromaidan foi uma hashtag que entrou nos trend topics do Twiter ucraniano durante os protestos de 2014. Os manifestantes do oeste do país foram às ruas de Kiev, basicamente, pedindo a adesão da Ucrânia à União Europeia em detrimento das alianças com a Rússia.


A população ucraniana apoiava o Euromaidan? Pesquisas de opinião apontaram um racha de cerca de 50% e essa divisão era geográfica. A metade leste do país se identifica como russa e desejava se manter sob o guarda-chuva da Mãe Rússia, enquanto a metade oeste se entende como ucraniano, que seria uma nacionalidade europeia ocidental, e que, portanto, deveria se unir a UE. O presidente na ocasião era o pró-Rússia, Viktor Yanukovytch.

A Rússia, por outro lado, entendia o movimento como uma “revolução colorida”, ou seja, uma revolta insuflada por países ocidentais através de redes sociais a fim de desestabilizar inimigos políticos, como teria ocorrido no Egito, Síria e Líbia.

Os protestos no oeste evoluíram rapidamente para uma guerra civil sanguinária que contou inclusive com a presença de milícias neonazistas, como o Batalhão Azov. O presidente Viktor Yanukovytch teve de fugir, naquilo que a Rússia entendeu como um golpe de estado apoiado pelo ocidente. Neste pretexto Putin anexou a Criméia e passou a se envolver diretamente na guerra dos separatistas eslavo-russos em Donbass. Já os ucranianos contra-argumentaram dizendo que Yanukovytch era um fantoche de Moscou, posto no poder pelos russos através de complôs, violência e corrupção.


A prerrogativa cossovar

A independência do Cosovo é a base do discurso russo para justificar a anexação da Criméia e sua presença no Donbass. O Cosovo era uma região de nacionalidade albanesa dentro do território da Sérvia que decidiu declarar unilateralmente sua independência.


A NATO/OTAN e ONU decidiram apoiar os cossovares, inclusive com bombardeios, baseando-se na ideia de “autodeterminação dos povos” onde toda nação poderia adquirir soberania se assim desejasse (e a Catalunha na Espanha?). A Rússia criticou a medida, dizendo que poderia abrir um precedente perigoso. E abriu mesmo! Mas esse precedente perigoso agora está sendo utilizado pela própria Rússia.


Ucrânia e a NATO/OTAN

Isto posto, na visão e retórica russa, a adesão da Ucrânia na NATO/OTAN seria o triunfo do ocidente que teria insuflado uma revolução colorida, dado um golpe de estado em um governo pró-Rússia e instaurado um governo fantoche pró-ocidente. Além disso, a Ucrânia dentro da NATO/OTAN seria como perder para sempre o suposto território russo além de complicar muito a presença das tropas de Putin em Donbass.

Ademais, a presença da NATO/OTAN em suas fronteiras seria um risco constante para Putin, pois eles teriam acesso à rotas históricas de invasão ao território russo, ao mesmo a NATO/OTAN está longe de ser uma aliança meramente defensiva. Suas intervenções militares levaram o caos ao Afeganistão, com a ascensão dos talibãs, e na Líbia que, após a derrubada de Muamar Gadafi, encontra-se ainda hoje em estado de anomia, que é quando as instituições não possuem autoridade sobre o país que fica divido entre diversas facções e senhores da guerra locais.


Os Estados Unidos, a cabeça da NATO/OTAN possui em seu retrospecto a invasão ilegal do Iraque e a tentativa de derrubada do regime na Síria, cujos vácuos de poder (somadas à entrada de armas americanas) propiciou o surgimento do Daesh (Estado Islâmico). Ou seja, a Rússia tem seus motivos para não dormir tranquila.

Isso significa que a invasão da Ucrânia pela Rússia é equivalente a adesão desta na NATO/OTAN? Lógico que não! As devidas proporções devem ser observadas, mesmo que considerado ilegítimo por Moscou, o governo ucraniano buscou voluntariamente a entrada na aliança, enquanto a Rússia se impôs através da força.


Resumo da Ópera

O mundo não é um filme da Marvel, não se divide entre heróis e vilões. Cuidado com as narrativas emocionais. Putin não está atacando a Ucrânia porque ele é louco ou por motivos fúteis. O que a Rússia está fazendo hoje, a NATO/OTAN estava fazendo ontem em outros países, cujas consequências são guerras muito mais sanguinárias em curso ainda hoje!


A Ucrânia não é uma camponesa vestal invadida pelo vizinho malvadão, metade dela gosta desse vizinho e a outra metade odeia (e aquele 1% é neonazista). Os atores políticos dentro da Ucrânia também possuem seus interesses e se associam com este ou aquele lado à revelia de suas ideologias e aspirações.

 

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Felipe Rebello é professor de História e psicopedagogo.


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